anotações

Não passo de mais um par de pernas dessa amiba gigante que é a multidão. Não se destingue o rabo da cabeça (à distância).

Poderá uma planta suicidar-se?

(as coisas que eu tenho na cabeça...)

Música do dia (in a 60's mood - long hair - good vibe)

anotação

"hoje sinto-me como aquela esponja da cozinha que foi escolhida, quando chegou do super-mercado, para limpar a casa-de-banho."

quando percebi que "cherie" era um óptimo nome para um poodle, não resisti!

deixa-me ficar aqui um bocadinho

Enroscadinha no caderno. Sem dizer nada. Sem ninguém saber de mim.

(o trabalho perfeito) Rapariga jovem oferece-se para

trabalhar, numa revista (caso eles possam corrigir os meus erros) ou cadeia de televisão, onde possa falar mal de todas as pessoas do jet set ou da populaça em geral - como diz o nosso querido Primeiro "O Povo".

notas soltas

Dou por mim a pensar que as palavras são como "a-pista-do-crime-perfeito" do qual não te vais safar. Está escrito.

Não passo de uma narcisista de merda...

"Oh me, my sweet me..."

Será o tempo ou é outra coisa qualquer que está a mudar?

frigidez

Eu queria poder cortar todas as minhas roupas e ficar nua. Ficar em silêncio, despida de todos os artificialismos e deixar-me observar por todos esses voiyers tétricos que esperam que eu caia e morra. Ficar na rua à mercê de todos os olhares, de todos os gostos e julgamentos.
Odiada ou amada - mas nua, verdadeira.
Eu queria poder ficar zangada com as pessoas. Gritar-lhes durante horas e bater na sua carne mole de sofá. Limar as minhas unhas na parede até não ter mais dedos... ter somente braços pintados de vermelho. Não ter seios, não ter homens com desejo. Não ter nada, não ser mulher. Queria ser um livro, um livro numa banca de feira, cheio de gotas de chuva do Outono, saliva e anotações a lápis. Se me deixassem eu seria um bilhete de amor, sou parva, acredito nessas lambuzisses da Disney, esses seres assexuados que cantam e dançam para toda a eternidade... ainda ontem vi a Cinderella e pelo que me pareceu ainda é virgem.
Eu queria poder escrever todas as frases soltas que se formam na minha cabeça, ainda que sem conexão umas com as outras. Eu queria poder fazer desenhos no teu corpo, escrever um livro, beijar o teu corpo. Abandonar-te ao frio. Aquecer-te com o meu próprio corpo mutilado. Cicatrizes do tempo, da chuva.
Eu queria fazer imensas coisas que não posso porque estou com o período.

Eva e Adão

Olha lá, ainda te lembras da forma dos meus seios?

cortem-me o pipi

quero ser homem.

palavras leva-as o vento

a minha cabeça é como uma criança indisciplinada. não me obedece, quer ser livre do corpo que a sustenta e rouba-me do mundo sempre que pode. quando durmo ela foge-me. um dia vou perde-la.

a pastora

Antes de morrer daquela forma trágica ninguém ouvira falar dela. Era uma estranha, uma rapariga comum e aborrecida que fazia o mesmo percurso todos os dias e que por acaso, num golpe de sorte, morreu da forma mais bizarra, divulgada e conhecida até então. Todos falam dela, alguns juram saber de onde ela é, outros julgam-se familiares distantes dessa miúda do campo que morreu na cidade, longe das suas maçãs e das suas cabras. O seu grande segredo era que tinha alma de pastora.

Mas disso ninguém sabia, as televisões roubam os olhos às pessoas e elas deixam de se ver umas às outras.

A pastora queria apenas passear no monte e acabou assim, na cidade, daquela forma inglória que nada condiz com a sua personalidade de fraga musgosa. "Mais valia ter caído dum muro quando era pequena" diziam sábiamente as velhas da sua aldeia qunado souberam do sucedido.

À noite, a pobre, quando se refugiava no seu pequeno quarto, sonhava com o som dos sinos das suas cabras. Fechava os olhos e gemia sons "Ei... UP!".

A pobre rapariga não gostava do mundo, só das ervas moles e do prado verde pronto a ser comido, pronto a ser digerido em leite que mais tarde mugiria para fazer o queijo da serra. Cresceu livre, com a cara suja, as roupas escuras pelo trabalho. O cajado herdou-o do seu avô Manuel que morrera quando a rapariga tinha 7 anos. Lembrava-se bem desse dia.

Estava na escola a fazer contas de multiplicar, amedrontada com o peso do olhar da professora que tanto gostava de açoitar ao mínimo erro.

A mãe bateu à porta. A professora levantou~se da sua cadeira de verga junto à salamandra que ruminava toros de oliveira e foi-lhe abrir a porta. Ouviram-se sussurros, mas ninguém se atreveu a tirar os olhos dos números que necessitavam de ser multiplicados. "Júlia", chamou a professora, e ela levantou-se e olhou para a mãe que tinha flores cor-de-laranja na mão, as mesmas que cresciam no muro do quintal da casa da família. "Júlia, o teu avô morreu". E ela lá foi, a pequena pastora tentando acompanhar os passos trémulos da mãe.

Do funeral já não tinha memória. Ela não percebia bem o que era aquela cerimónia, o avô ali deitado a dormir a sesta com toda a aldeia a rezar-lhe. "Quem me faz agora o vinho quente, mãe?", acabara-se o carinho da única figura masculina que a pequena tivera na vida.

E foi assim. A pequena Júlia deixou a escola, deixou para trás as contas de multiplicar e os rios de Portugal e agarrou-se com amor ao cajado que a mãe lhe entregara uma semana depois do funeral.

A aldeia admirava-a e as cabras obedeciam-lhe com tamanha devoção e respeito que era um gosto vê-la passar com as 100 cabeças que guardava.
Para a pequena, o prado e a guarda eram alegria para a sua alma. Livre e dona de si, percorria quilómetros sem fim para alimentar aqueles animais que a seguiam com amor de filhos pequenos. A Júlia, aos 12 anos, era como uma fraga do cabeço - grande, forte e imponente.

Cresceu a dar à luz cabritos cobertos de sangue. As mãos calejadas de mugir tetas de cabra, loira do sol, bela como as flores do campo.
Foi aos 16 que as coisas mudaram. O gado doente com a febre. O veterinário a abater os seus filhos e netos, todas as cabras que eram a sua vida. E ficaram sem nada. Uma lareira a crepitar, umas batatas na panela e o silêncio entra aquelas duas mulheres. Júlia sabia que era nas mãos dela que a vida se ganhava. Aceitou o trabalho no restaurante do Sr. Abrantes e da Dona Quinhas, haviam sido bons compradores de queijo e eram primos da mãe. E numa tarde de Outubro apanhou a carreira para Lisboa.
Trabalhava na cozinha, cortava batatas e lavava as loiças do dia. Não falava com ninguém, era calada a rapariga. Vivia num quartinho alugado a uma senhora de idade que como pagamento pedia 85€ por mês e a limpeza da casa feita a preceito, e a Júlia limpava, calada e distante.

"Agora que a rapariga morreu, coitada, que vai ser da sua mãe?" perguntam as velhas da aldeia, "Uma desgraça" dizem de dedos entrelaçados no colo. A última das suas crias e que Júlia cuidava com tanto amor, a sua mãe, quem cuidará dela? Ninguém sabe.

Ninguém sabe quem é a Júlia. Apenas veêm um corpo morto e sem vida e não sabem o que fazer com ele. Uma rapariga que morreu.
Na aldeia fazem-se os preparativos para a chegada do caixão. A Dona Quinhas agarra com carinho o braço da mãe da rapariga que com lágrimas nos olhos segura um ramo de flores cor-de-laranja, as mesmas que crescem no muro do quintal da casa de familia.

música do dia: Rolling Stones - play with fire

Well, you've got your diamonds and you've got your pretty clothes
And the chauffeur drives your car
You let everybody know
But don't play with me, 'cause you're playing with fire

Your mother she's an heiress, owns a block in Saint John's Wood
And your father'd be there with her If he only could
But don't play with me, 'cause you're playing with fire

Your old man took her diamond's and tiaras by the score
Now she gets her kicks in Stepney
Not in Knightsbridge anymore
So don't play with me, 'cause you're playing with fire

Now you've got some diamonds and you will have some others
But you'd better watch your step, girl
Or start living with your mother
So don't play with me, 'cause you're playing with fire
So don't play with me, 'cause you're playing with fire

o zé povinho a conversar com o amigo quim

"Estou farto de conversas. Conversa da chacha. Conversa da treta. Bla bla bla. Esta gente não se cala? Que lhes interessa que limpe o rabo com a mão direita? Não interessa? Pois pensei que interessasse! Quem é que inventou essa coisa de se conversar? Tenho mais que fazer do que estar a tentar parecer interessante. Interessante o caraças, queremos é saber quanto é que o outro mete no bolso. Não se vê logo que ele nos anda a aldrabar com a conversa do coitadinho, o gajo sabe é a conversa toda. E vai chupando uns trocos aqui e ali. Pagam-lhe umas cervejolas porque o gajo é coitadinho e prontos. E é só sorrisinhos. E o povo que trabalha é que se lixa que nem tempo tem para cagar em paz. É vira pa cá o cu, e toma lá. E é sempre assim, caralho, um gajo é que leva com tudo. É as contas, é os gajos que nos levam o couro e o cabelo. Eu não tenho nada! Eu não tenho nada! É tudo pra eles... tenho tudo empenhado que nem a porra do carro é meu... a mulher só quer vestidos, um gajo é que se lixa que nem o futebol pode ver em paz tem de tar a ouvir as conversas de merda das gajas que querem um marido compreensivo... estou farto desta merda toda... O que me apetecia era mandar tudo pró caralho e emigrar, é que nem os velhotes merecem, porra. Agora querem que eu me preocupe e o tanas... já me exploraram o suficiente... eu estou farto disto tudo. Este país é uma merda ò Quim. Eu sou um desgraçado. Eu já não sei o que hei-de fazer à minha vida." (inspired by eleições 2009)

apontamento sobre a india

A cor daquela terra ficou-me no sangue. O meu corpo vive alimentado por ela. Somos da mesma matéria. Somos folhas da mesma raiz, e dentro de nós correm moléculas de um mesmo ser, muito antigo, que nos originou.

Se fechar os olhos e imaginar aquele lugar eu vejo um verde muito vivo e uma terra muito vermelha, cheia de cor e calor. Sorrisos rasgados e flores felizes, árvores livres, mulheres amadas por outras mulheres. Crianças que sabem correr de calções. Pés descalço sem medo das pedras. Pulmões cheios de ar puro.

Calor.

Calor de gente, de sol que nunca se põe ainda que haja imensas nuvens no céu. Lágrimas gordas que não foram choradas mas que se transformaram em chuva que me lavaram os braços, o peito, as pernas e os pés. Chuva que me roubou os medos e os monstros do escuro. Lavaram todas as crianças assustadas que se refugiaram na minha imaginação de velha de vinte tal anos.

Chuva que me alimentou a esperança e o sonho, esse órgão vegetal tão frágil.

A cor daquela terra roubou-me os olhos para sempre. Agora tenho olhos de argila vermelha. Olhos vividos e doridos, cheios de calos e feridas profundas de quem mexe nas pedras, de quem as amacia.

A cor daquela terra tingiu a minha vida. E de braços abertos corro pelas ruas para a abraçar e amar como a uma mulher antiga que se entregou para sempre aos amantes do mundo.
Em mim nasceu uma pequena folha verde, no ramo mais seco que era o coração.

agradecimentos especiais

Obrigado.
Obrigado a todas as televisões deste mundo.
Às primeiras televisões a válvulas.
Às a preto e branco.
Às televisões com comando.
Às televisões flat screen.
Às televisões HD.
Às televisões full HD e todas as outras não mencionadas aqui.
Obrigado.
Obrigado por terem impedido gerações de pensar por elas mesmas.
Obrigado por continuarem a sedar as mentes das pessoas.
Obrigado por salvarem o mundo, corajosa e silenciosamente durante tanto tempo.

Continuem o bom trabalho.

conversas

"Deus só pode ser um velho senil e desdentado que não sabe o que fazer connosco" (RM)

coisas do dia

O meu café vai fechar.
Ele não é meu, mas gosto de assim lhe chamar.
Gostava de poder ignorar esse facto durante mais algum tempo, mas já não posso. O tempo, como sempre, ganhou a corrida e ele vai fechar amanhã. Acabou-se aquela rotina de descer a escada e entrar naquela portinha branca. Tomar um café, escrever umas linhas.

Gosto de cafés. Gosto sobretudo das pessoas que nele vivem. Eu faço parte delas. Somos uma família grande que tem em comum a mesma chávena e o mesmo copo.
Vai-se acabar. E acaba também o meu espaço de reflexão.
No últimos tempos já não ia lá para escrever, ia somente para pensar. Descobri que quando as pessoas passam a conhecer-me, deixo de ser capaz de escrever. É uma "pudicidade" idiota, dizem alguns, eu diria que não gosto de me leiam assim, à descarada. Mas para pensar, aquele era certamente o meu lugar favorito.
Gostava de ficar a ver as mesas rodeadas de velhinhas com suas bengalas, falavam de Troia e de uma Maria qualquer... todas tão arranjadinhas.
E agora vai fechar. Ainda não acredito. Mas as coisas vão mudando e... nada há a fazer. Ao menos pintei as unhas e penteei-me. Hoje vou bonita tomar café.

Sim... Sou da geração Disney. E tu?

Sim, eu acredito mesmo que o "Monstro" mudou pela Bela.
Sim, eu acredito que o Príncipe não se importa que a Ariel cheire a peixe.
Sim, eu acredito que o Príncipe não se importa que a Branca de Neve tenha vivido com 7 Anões.
Sim, eu acredito que o Príncipe nunca tratou mal a Cinderela por ela ter feito limpezas no passado.
Sim, eu acredito que o Dumbo cresceu e nunca mais foi gozado por ter umas orelhas grandes.
Sim, eu acredito que a Bela Adormecida foi feliz para sempre, ainda que se tenha casado aos 16 anos e nunca tenha visto nada do mundo.
Sim, eu acredito que o Mickey (50 anos depois) se vá casar com a Minie.
Sim, eu acredito que o Simba foi um bom rei.

Sim, eu acredito que há mais Prícipes por este mundo fora do que aqueles que eles dizem.

(está tudo isto imbuído na minha personalidade?)
CERTIFICO QUE
maria caxuxa
ainda acredita que o amor existe,
ainda que não tenha sido cientificamente comprovado
ainda acredita que a amizade é para sempre
(mesmo que nunca mais tenha visto a pessoa que
considera amiga, mesmo que a tenha beijado na boca,
mesmo que ela lhe tenha roubado o namorado)
ainda acredita em trevos de quatro folhas
ainda gosta de ver romances e histórias de amor no grande ecrã
Ainda chora no escuro
A presidente de todas as lamechices do mundo inteiro
Albertina Augustina Alvaro Anjos

sobre mim e sobre todas elas

Querer nem sempre significa compreender essas vontades. Queremos uma data de coisas, necessitamos delas e somos proporcionalmente felizes à quantidade de quereres que conseguimos concretizar. Pelo menos é dessa forma que agora ela vê as coisas. Dantes acreditava que a felicidade era somente composta por lugares e pessoas. Hoje em dia já não acredita em nada disso. Poderia mesmo dizer que já não acredita em nada. Apenas quer coisas. As coisas são mais fiáveis, não podem enganar, trair, magoar. Temo-las, amamo-las e quando deixam de nos servir guardamo-las dentro de uma caixa esquecida em cima do guarda-fatos. Esquecemos e temos logo outra coisa para a substituir. Em breve vai ser assim com as pessoas. Já somos quase de plástico, mas no futuro vamos ser ainda mais dispensáveis. Talvez os livros deixem de existir e passem a escrever manuais sobre "como aprender a sorrir", "aproveite uma tarde no parque", "história da amizade", "como fazer um piquenique". Infelizmente o decorrer do tempo vai apagando muitas coisas - palavras, hábitos... e as coisas vão mudando. Seremos velhos um dia, já sem familiares e amigos, sozinhos num apartamento pequeno e cheio de caixas com coisas que ninguém quer ver. Sozinhos com coisas que também já não queremos.

dilema

visto-me e vou tomar um café ou dispo-me e não vou?

manhã

Eram as manhãs a sua nova descoberta. A hora antes de o mundo acordar. Foi por acaso que a fez.
Acordou.
E ao reparar no silêncio e na ausência de gente sentiu que se podia sentir mais a si mesma, percebeu as mil e uma possibilidades da madrugada e apaixonou-se para sempre. Era a hora perfeita para criar.

summertime

Summertime.

Está tudo a acabar. A validade está no fim e estou certa que não vamos chegar a tempo de aproveitar a última dentada.

Vão devorar o mundo inteiro e nós não vamos comer nada.

Eu queria era beber, comer nem é o que me preocupa. Queria embebedar-me com o mar e dizer todas as parvoíces que guardo na caixa de pandora.

Mas não vamos a tempo.

Restam-nos os calos nos pés para o Inverno. Eu a odiar os teus, tu a evitar os meus. Não bastam cremes para recuperar a suavidade destes dedos gretados, estes calcanhares que já nada sentem. Se assim continuarmos, vamos viver para sempre.

Com calcanhares destes não precisamos temer a morte. Coitada, por muito que tente, não vai atravessar nunca este escudo de insensibilidade.

Hoje, toquei nos meus pés e não senti nada. Eu só queria ter pés de barro para poder caír, cair e quebrar todas as partes que me compõem, ficar em pó. E desse pó fazer cimento. E desse cimento construir uma auto-estrada barulhenta para dar cabo da cabeça a toda a gente.

Peter Sarstedt

You talk like Marlene Dietrich
And you dance like Zizi Jeanmaire
Your clothes are all made by Balmain
And there's diamonds and pearls in your hair

You live in a fancy appartement
Of the Boulevard of St. Michel
Where you keep your Rolling Stones records
And a friend of Sacha Distel

But where do you go to my lovely
When you're alone in your bed
Tell me the thoughts that surround you
I want to look inside your head

I've seen all your qualifications
You got from the Sorbonne
And the painting you stole from Picasso
Your loveliness goes on and on, yes it does
When you go on your summer vacation
You go to Juan-les-Pines
With your carefully designed topless swimsuit
You get an even suntan, on your back and on your legs

When the snow falls you're found in St. Moritz
With the others of the jet-set
And you sip your Napoleon Brandy
But you never get your lips wet

But where do you go to my lovely
When you're alone in your bed
Tell me the thoughts that surround you
I want to look inside your head, yes I do

Your name is heard in high places
You know the Aga Khan
He sent you a racehorse for chistmas
And you keep it just for fun, for a laugh haha

They say that when you get married
It'll be to a millionaire
But they don't realize where you came from
And I wonder if they really care, they give a damn

But where do you go to my lovely
When you're alone in your bed
Tell me the thoughts that surround you
I want to look inside your head

I remember the back streets of Naples Two children begging in rags
Both touched with a burning ambition
To shake off their lowly brown tags, yes they try

So look into my face Marie-Claire
And remember just who you are
Then go and forget me forever
'Cause I know you still bear
the scar, deep inside, yes you do

I know where you go to my lovely
When you're alone in your bed
I know the thoughts that surround you
'Cause I can look inside your head

(adoro a intro desta música! soundtrack do dia)

will

Eu sei que vou morrer. Mas quero morrer fuzilada. Por favor, não me tirem este meu último desejo.

apontamentos sobre um passado inexistente

"Há que mudar o mundo!" ouvia-se nas ruas o eco de uma voz sem corpo.
Ainda que ninguém soubesse o que mudar, onde ou quando.
Apregoava-se no escuro, escondendo-se o rosto numa capa preta de mentiras. Apregoavam-se promessas de um futuro melhor, de um mundo menos triste e com menos diferenças.

Ainda que tudo fosse mentira, sabia bem fingir acreditar.

apontamentos

Não quero fazer nada. Não quero viver nem um bocadinho. Vou ficar sentada no sofá a olhar para a parede branca até o mundo acabar. Não quero ver nada nem sentir nada. Sentir é um vírus que nos fragiliza e eu quero ser forte. Eu quero ser como as pedras. Quero ser uma coisa morta para que nada nem ninguém tenha grandes expectativas. Matar tudo e não deixar ficar nada. Enterrar debaixo de muita terra os sonhos, os cheiros e os amores. Não dar mais erros ortográficos, destruir todas as canetas e rasgar todos os papéis. Não ter medo de falar. Queimar o cabelo, cortar o rosto e partir os espelhos - esses monstros. Quero destruir tudo o que faz de mim um ser humano... quero apenas não ser.

sorri, olha o passarinho

Não sei o que fazer com este tempo morto. Morreu. Eu não queria mata-lo mas ele estava na mira da minha arma. Eu, eu não queria mata-lo mas ele morreu.

essa miuda... sim, eu quero ser (Jorge Palma)

Essa miúda é uma fogueira Que te acende as noites em qualquer lugar E tu desejas arder com ela Enquanto bebes o perfume Que ela deita nos seus trapos de cor Para te embriagar Essa miúda é um exagero Diz que sem ti não sabe voar Mas tu adoras voar com ela Enquanto inventas espaços novos Ela vai arquitetando uma teia P´ra te aconchegar Essa miúda faz-te acreditar Que o sol é um presente Que a aurora trás Principalmente p´ra ti Essa miúda é uma feiticeira Prende-te a mente e põe-se a falar E tu bem tentas compreende-la Mas o que sai da sua boca Não parece condizer com o que ela Te diz com o olhar Essa miúda faz-te acreditar Que o sol é um presente Que a aurora trás Principalmente p´ra ti

voltar

Não me tinha ocorrido que o regressar fosse uma dor. Não uma dor física, mas sim uma dor num lugar que não sabemos reconhecer. Sinto a falta da confusão e daquelas ruas muito pequeninas que nunca mais acabavam e que nos punham a cabeça a andar a roda. Voltar, é encontrar tudo nos mesmos lugares quando dentro de nós nada está na mesma. Queria andar nua e... e poder sorrir para as crianças e elas sorrirem de volta. Falar com estranhos e receber um sorriso. Fazer amigos. Comer coisas que não conheço, chorar por perceber que o mundo é gigantesco e diferente. Queria não ter de parar, não ter de voltar... e continuar por essas estradas, essas linhas de comboio que não acabam. Voltei, e fico triste. Eu queria ter ficado e ver o nascer do sol mais uma vez. Hoje, em Lisboa. E a Rute? A Rute está num lugar que vocês nunca viram.