Digestão

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are we really free now, my darling? (your letters they all say that you're beside me now. Then why do I feel alone?)

"Come over to the window, my little darling,
I'd like to try to read your palm.
I used to think I was some kind of Gypsy boy
before I let you take me home.

Now so long, Marianne, it's time that we began
to laugh and cry and cry and laugh about it all again."


(Leonard Cohen)

não sei onde deixei ficar os meus olhos


As meninas bonitas comem gelado - olha que feias!

Pah pah ta tum tum
Acho que é quarta feira e o sol está a pôr-se.
Noite e dia sonho em caminhar por caminhos de terra que não me levam a lado nenhum.
Uma confusão. Pah pah ta tum tum
Depois lembro-me do pôr do sol e sei...
Sorri todos os dias como as meninas bonitas.
Sê feliz, como te ensinam nas revistas.

Para então descobrires que a porra da felicidade é um unicórnio inútil,
só serve para foder cabeças.
A felicidade, quer acredites ou não, é uma puta.
Vai com todos e não fica com ninguém.
Vende-se, como os gelados na praia, por tuta e meia.
Vende-se barata e quanta mais felicidade tu compras mais fodido vais ficar no final - vais ver.
Estou farta de pílulas cor-de-rosa.
Felicidade isto, felicidade aquilo.
Que se foda a felicidade com todos esses que por aí andam, essas capas de revista.

Eu queria ser uma menina bonita mas não posso.
Nasci feia e os meus pés magoam-me.
São grandes.
Pés de homem. Tenho pés de pai.
Pés de ausência, de estar longe.

Quando olho os meus pés lembro-me de quando era pequena
e lembro-me também de como me faziam sentir feliz - tenho os pés do meu pai.
O que é que eu queria?
Não mudes. Talvez nos encontremos no futuro e então...
então eu serei uma boneca de porcelana.
Tudo isto se os meus pés não me traírem.

Viagem no tempo. Retalhos de que sou feita, as agulhas cosem sem parar para reparar esta boneca de trapos que se desfaz... desfaço-me.


Eu quero fazer chapéus.
Quero remar contra a maré e encontrar-me contigo na Foz do Douro pela primeira vez em 1000 anos. Não vamos pensar em sexo desta vez, vamos só dar as mãos e ver o nascer do sol que está mesmo atrás de ti. Nunca o vês.
Quero correr na linha do eléctrico, beijar aquela luz de cidade entristecida.
A minha cidade. Porto.
Preciso dessas futilidades para aguentar. Ah os dias, os dias longos e frios, brancos como o fluorescente das lâmpadas do mercado. Varinas apregoam o meu nome, e eu corro até elas de braços abertos. Dá-me, dá-me lagartixas a correr, eu preciso, preciso das ruas inclinadas, do movimento do autocarro, da chuva a escorrer nos vidros, preciso daqueles cafés sem nome com cadeiras de madeira. Que se fodam as de plástico.
Coisas pequenas.
Pequenas. As cordas de um violoncelo. Aulas de música. Não cresço, criança, adolescente, rebelde. Devoro reticências pois não quero o nada por dizer. Quero o meu pai de volta para poder ser do contra. Contra o quê?
Contra mim, contra a parede e o vaso parte-se com as rumãs a rebolar. E rimos da loucura dos dias mortos de Verão que de nada ou pouco servem. Eu percebo, a luz influencia-me a escrever. Os dedos moles, demoram a pensar, dobram-se em cima das letras. Tesão, é preciso.
Quero gritar, sussurrar dentro de mim, dentro da sala escura, vamos fechar as janelas.
Paris. Silêncio. Paris acordou.
Paris, a pradaria do imaginário literário. Ah o romance que fede decomposto. E de que falo eu, Mon Amour?
O amor, pequeno Capuchinho Vermelho, devora-te. Devora a tua capa, e em pelo, tu pedes-me que te abrace, tens frio?


Requiem

quando, daqui a umas horas, a manhã vier branca e fria, saberei eu andar?
lembrar-me-ei de como se põe um pé à frente do outro? sem cair...

(Al Berto)

procurando-me nos papéis de outrora



É ainda cedo, cedo nos dias. O céu está azul cinzento e eu não quero ouvir o mundo. Puxo de um cigarro. Na realidade não puxei, penso que puxei. 
Puxo de um cigarro e fumo-o diante de uma bica quente (a bica não existe, somente nos meus delírios e papilas gustativas). As cores não me ferem os olhos porque não há cores, há apenas ruas com nome de gente. Gente que eu não conheço, nem conheço as ruas. São apenas ruas, são aquilo que são. E depois vêm os sorrisos, aqueles que nada iluminam dentro de mim, aqueles que me vão corroendo por dentro por não serem sorrisos. São bocas, bocas grotescas com dentes e batons de cores garridas, cores que não existem porque afinal o mundo está azul cinzento. São bocas negras que mentem sorrisos. E eu pego-lhes, todos aqueles sorrisos feios, de mãos trémulas tentando agarrar o momento que é mentira e que se desfaz lento. Sorrisos no ar como papel a arder. E vou, no dia cinzento, por dentro (ou fora) da palavra (não - da rua, era na rua), com a maça na mão. Eu quero comer a maçã, mas quero come-la noutro lugar, nalgum lugar verde, vivo, e não este esboço de lugar a preto e branco. Eu gosto de preto e branco, mas queria mesmo comer esta maçã. Sei que depois haverá só janelas à minha volta, mãos que escorregam no vidro e tentam tocar as árvores, sem nunca o conseguirem fazer. Mãos tristes que escorregam, mãos que dantes tocavam outras mãos, na relva, no verde.
Eu quero comer esta maçã.
E como. Dentro de mim, por dentro de mim. De pé. Sofregamente, como quem não vive.

pedra da calçada

Será pedir muito? Rir mais vezes. Sorrir durante mais segundos. Olhar mais fundo nos olhos das pessoas com quem me cruzo. Inventar histórias absurdas sobre todas as coisas em que tropeço. Salvar mais e mais objectos pessoais que encontro na rua. Tentar encontrar-me numa cidade gigantesca, da qual só conheço duas ruas. Tomar café numa mesa com uma só cadeira. Roubar um pouco mais de tempo para poder sonhar sem ter que pensar no futuro. Andar de baloiço até tocar na lua com a ponta o meu dedo! Comer tarde de maça e beber um chá com os amigos do Pólo Norte. Voltar a levantar o copo e dizer "a nós"! Ter menos sono. Ter vontade de pintar as unhas dos pés. Poder fazer tudo mas não fazer nada porque não me apetece. Fazer livros para os outros escreverem. Será pedir muito viver um bocadinho mais?

Nada pode chegar perto

Preciso de um balão que voe muito alto e que me faça esquecer que o chão é feito de pedras cortantes. Preciso de perder-me por entre os escassos candeeiros que iluminam a praça, e recuperar a vontade de saborear o lusco-fusco do pensamento. Estar só. Como naqueles passeios nocturnos por veredas escuras em que nos perdemos sem sabermos como voltar para trás. Estou cansada de palavras. Tenho saudade de palavras. Há coisas que não te disse. As palavras parecem dizer tão pouco. Dirão nada dos nadas que cada palavra possuiu.
Não sei se terei esse balão mágico, e nem sei se importa.
O silêncio já não incomoda.
Quero somente caminhar sem rumo.
Got to find me somebody
But there's nobody
To love me
And it's driving me crazy
There's nobody to love me

I am an emotional creature - I am an abnormal creature

carta

É noite.
Andava descalça de noite quando nos cruzamos, não sabia bem onde estava, se estava. Sentia-me longe e incrivelmente só, com as palavras do Torga na boca como se fossem minhas, e sabiam-me a verdade.
Sinto que perdi em mim a capacidade de falar. Muda. E há palavras que queria gritar, que estão suspensas. A noite chegou, e chamam-lhe "fim do dia".
 
Sim, chegou.
 
Há um cansaço dos olhos e do cérebro, um enorme desejo de negro e silêncio.
Sinto-me inquieta. Não me apetece ler, não me apetece ver ninguém, não me apetece ir a lado nenhum. Só a música me repousa, escolho-a cuidadosamente e deito-me num quarto escuro. Espero pacientemente que as imagens se dissolvam no ecran tremido das minhas pálpebras, demora algum tempo (respiro muito lentamente) mergulho na letargia e adormeço. Mas é um sono agitado, entre-cortado.
Preocupa-me não conseguir ler. O meu refugio de sempre. 
Ocorre-me a voz do Jim Morrison: «I'll always be a word man. Better than a bird man». E concordo com esse lagarto gordo que ainda vive nos sonhos suados de tantas adolescentes. Não há voos mais belos que os desenhados por palavras, nada mais fascinante. Mas agora sinto-me inundada de imagens. Agora, não consigo olhar um livro sem sentir aquele enjoo de quem salta de um barco para terra firme. As palavras bailam trocistas.
 
Não tenho sapatos.
Não falemos enquanto escrevo.
Pergunto-te:
- Vamos brincar na areia? 

Encontro no Sotão (Lea & Lee - surrealistic memories of a young girl)

Lea – Vamos passear hoje?
Lee – Está a chover.
Lea – Não tenho exercitado a minha imaginação. Tens usado a tua? Tens de a usar!
Lee – Não, está bloqueada.
Lea – Também não sei como se faz para começar. Começa-se, sabes? E depois pronto! É pena, assim não te posso dar a mão e levar-te, não irias perceber nada. Precisas de imaginação.
Lee – Levar-me onde?
Lea – Para o topo de uma árvore, por exemplo. Para o meu quarto ou para o telhado! Experimenta ir a lugares que conheces de olhos fechados!
Lee – O que é que não ia perceber!?
Lea – O porquê de te levar a ti, comigo,para esses lugares.
Lee – Isso de ir a lugares conhecidos de olhos fechados, estimula a imaginação?
Lea – Estimula! Continuas triste?
Lee – Não estou triste…
Lea – Oh… Hoje estou incrivelmente infantil! Quero brincar! Quando recuperares a capacidade de imaginar, dás-me a mão?! É uma loucura dares-me a tua mão, ainda faço com que te percas!...
Lee – Perdido pensei que estava eu. E afinal é isso que me falta! Perder-me para me reencontrar…
Lea – Oh, então estas em boas mãos! Mãos com mãos. Podes ir comigo!?
Lee – Se me levares…
Lea – Claro que levo! Mesmo que não percebas nada! Hum… e vamos de pijama. Vamos hoje! Vou imaginar - fecha os olhos - uma rua comprida, tem bancos vermelhos de onde a onde, e candeeiros antigos! Há guarda-chuvas abertos. Não sabemos bem para onde vamos, nunca sabemos! Eu sou trapezista!
Lee – Mas estás de pijama!
Lea – Eu tiro!
Lee – Não!
Lea – Tens medo?
Lee – Não, tenho medo de mim. 
Lea – E tu? O que é que queres ser quando tirares o pijama?
Lee – Não sei. Obriga-me a ser qualquer coisa.
Lea – Posso obrigar-te? Podias ser domador… enfrentar as tuas feras! Deixar de as temer! E tinhas um casaco vermelho com botões dourados! Eu podia saltar sobre a arena!
Lee – As feras comiam-te.
Lea – Eu não caía…
Lee – Elas voam.
Lea – Mas tu não deixavas…
Lee – Deixava, deixava… (sorrindo) Não deixava, era só para te assustar! Depois dizia para não usares mais esses sapatos, elas não gostam…
Lea – Mas depois eu ficava descalça…
Lee – Tu voas também, fera!
Lea – Os meus olhos estão pesados, não vou ficar mais a olhar para ti…
Lee – Vou tirar o pijama.
Lea – Então, antes de adormecer, também tiro. 
Queria que hoje fossem os meus dedos a escrever por mim.

reflection (há quem fale por mim)



Abram-me todas as janelas!
Arranquem-me todas as portas!
Puxem a casa toda para cima de mim!
Quero viver em liberdade no ar,
Quero ter gestos fora do meu corpo,
Quero correr como a chuva pelas paredes abaixo,
Quero ser pisado nas estradas largas como as pedras,
Quero ir, como as coisas pesadas, para o fundo dos mares,
Com uma voluptuosidade que já está longe de mim!

Não quero fechos nas portas!
Não quero fechaduras nos cofres!
Quero intercalar-me, imiscuir-me, ser levado,
Quero que me façam pertença doída de qualquer outro,
Que me despejem dos caixotes,
Que me atirem aos mares,
Que me vão buscar a casa com fins obscenos,
Só para não estar sempre aqui sentado e quieto,
Só para não estar simplesmente escrevendo estes versos!
Não quero intervalos no mundo!
Quero a continuidade penetrada e material dos objectos!
Quero que os corpos físicos sejam uns dos outros como as almas,
Não só dinamicamente, mas estaticamente também!

Quero voar e cair de muito alto!
Ser arremessado como uma granada!
Ir para a... Ser levado até...
Abstracto auge no fim de mim e de tudo! (...)
Tua alma ave, peixe, fera, homem, mulher.

(Álvaro de Campos)

linhas

Depois de escrever, leio...
Porque escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

(Álvaro de Campos)

Carta (tantas que escrevi para ti e não lês-te)

Parece mesmo que morreste. Já reparaste neste silêncio que nos separa? Já não te encontro do lado de lá do tronco da nossa árvore. Sento-me e espero por ti nessas tardes que para mim faziam sentido quando te esperava. Agora, espero-te e tu não vens. Nada faz sentido. Também abro a janela como fazia antigamente, aquele muito antigo em que eu gostava ti. Onde estás? Ainda te lembras de mim? 
Perdi-me de ti naquele sonho em que seguias num carro grande e te afastavas cada vez mais, eu a chamar, a chamar... a mostrar-te as minhas luvas de mimo, aquelas com que eu gostava de brincar contigo. As tuas favoritas, ainda te lembras? Eram vermelhas! 
Às vezes sonho contigo, ainda aí estas, mas longe, do lado de lá da velha ponte vermelha. Não é justo que tenhas ficado com os meus dedos, aqueles que eu usava para falar. Deixaste-me muda. Roubaste as histórias que eu te contava. Ficaste com tudo. Agora reparo que sempre foi assim, tu lá e eu aqui, a desenhar-te o mundo, mas tu nunca querias nada... e eu queria dar-te tudo, os meus lápis de cera, as minhas mãos e a minha boca. 
Dentro da esquecida mala de viagem encontrei alguns dedos e recomeço a aprender a falar. Não vais acreditar, mas o mundo afinal é redondo e podemos ir a todo o lado, basta querer! Eu quero ver o azul e o vermelho do mundo. Eu levo verde, na esperança vã que te relembres dos tempos em que ainda sabíamos voar e nos ríamos nos intervalos dos silêncios que degustávamos no telhado da minha vizinha imaginária. Às vezes ainda espreito pela tua janela. Está sempre fechada e é escuro lá dentro. Ainda assim, espero encontrar-te um dia para te poder entregar um abraço muito pequenino que fui deixando dentro de um bolso antigo. Esta carta serve só para te dizer que eu ainda estou viva.

caderno cor-de-rosa . constatação

Há um silêncio que não se consegue transpor, como uma corrente eléctrica que invade tudo e não deixa escapar nada, o mundo está parado e surdo de sentimentos.

Carta de Amor por João Villaret (escutada a dois)


Ouve-me!, se é que ainda


Me podes tolerar.

Neste papel rasgado

Das arestas da minh'alma,

Ai!, as absurdas intrigas

Que te quisera contar!

Ai os enredos,

Os medos,

E as lutas em que medito,

Quer dê, quer não dê por isso,

Sem descansar

Um momento...!

Quem sofre - pensa; e o tormento

Não é sofrer, é pensar.

O pensamento

Faz engolir o vómito de fel...

Ouve! se sou cruel

Neste papel queimado

Dos incêndios da minh'alma,

é de raiva de que embalde

Te procure dizer sem falsidade

Coisas que, ditas, já não são verdade...

E procuro eu dizê-las,

Ou procuro escondê-las?

E procuro eu dizer-tas,

Ou procuro a vaidade

De mas dizer, a mim, de modo que mas ouçam

Esses mesmos que desprezo,

E cujo louvor me é caro?

Não me acredites!

O que digo,

Antes ou depois, o peso;

E não!, não é a ti que me eu declaro!

Sei que me não entendes.

Sei que quanto melhor te revelar

O meu mundo profundo,

O fundo do meu mar,

Os limos do meu poço,

O antro que é só meu (sendo, apesar de tudo, nosso)

Menos me entenderás,

Tu..., - a minha metade!

Por isso me não és senão vaidade,

Meu amor!, meu pretexto

Deste miserável texto...

Vês como sou?

Mas sou pior do que isto.

Sabe que, se me acuso,

é só por vício antigo

De me lamber as mãos e agatanhar o peito,

De me exibir a Cristo!

Sabe que a meu respeito

Vou além de quanto digo.

Sabe que os males que ora uso,

Como quem usa

Cabeleira ou dentadura,

São a pintura

Que esconde os mais verdadeiros,

De outro teor...

E sabe que sou pior!:

Sabe (se é que o não sabes)

Que ao teu amor por mim foi que ganhei amor.

Que a ti..., sei lá se te amo.

Sei que me deixam sozinho

Ante o girar dos mundos e dos séculos;

Sei que um deserto é o meu caminho;

Sei que o silêncio

Me há-de sepultar em vida;

Sei que o pavor, a noite, o frio,

Serão jardim da minha ermida;

Sei que tenho dó de mim...

Fica tu sabendo assim,

Querida!,

Porque te chamo.

Mas amar-te?!

Não!, minha vida.

Não! Reduziram-me a isto:

Só a mim amo.

Ama-me tu, se podes,

Sem procurar compreender-me:

Poderias julgar que me encontravas,

E seria eu perder-te e tu perder-me...

Ao menos tu..., desiste!

A sobre-humana prova que te peço,

A mais heróica!,

A mais inglória e a mais triste,

é essa..., - é este o meu preço.

Mais que o despeito, o ódio, a incompreensão

Dos por quem passei sereno,

Estendendo a mão afável

Ao frio, pérfido, amável

Aperto da sua mão,

Me punge,

Me pesa no coração,

O fruste amor dos que me interpretaram.

Ai!, bem quiseram amar-me!

Bem o tentaram.

Mas nunca me perdoaram

O não serem dominados

Nem poderem dominar-me...

E assim o nosso amor foi uma luta

De cobardes abraçados.

Entre eu e tu,

Tão profundo é o contrato

Que não pode haver disputa.

Não é pacto

Dum pobre aperto de mão:

Entre nós, - ou sim ou não.

Despi-me..., vê se me queres!

Despi-me com impudor,

Que é irmão do desespero.

Vê se me queres,

Sabendo que te não quero,

Nem te mereço,

Nem mereço ser amado

Pela pior

Das mulheres...

Poderás amar-me assim,

(Como explicar-me?!)

Por Qualquer Cousa que eu for,

Mas não por mim!, não a mim...!



Beijo-te os pés, meu amor."

José Régio

Family time!


time traveler (procurando-me nas palavras e nos rabiscos de outrora) . novos retratos . há palavras no bico . perspectiva


Porque tudo é tão triste? Ah... se ele soubesse. (carta tresloucada de sexta)

Eu quero uma mini saia. Sim, é verdade, parece que os meus 15 anos finalmente chegaram e quero uma mini saia! O meu cabelo está maior do que quando nos conhecemos, talvez agora possas trepar a torre! Eu faço crepes e podemos ver filmes a noite toda! Ou se preferires, fugimos como dantes. Ah, parecem pequeninas formigas estas emoções que se perderam. Estão a voltar, sentem-se da mesma forma que um pé dormente quando dormimos mal... Ah, as viagens, os candeeiros das cidades à noite... Vou devorar tudo como se de um chocolate se tratasse! Vou pegar em ti e abanar-te, abanar-te e beijar-te e abraçar-te! Quero correr no lusco-fusco de braços abertos e rodar a olhar o céu. Despimo-nos e eu finjo que sou tu e tu és eu! Ah, se as palavras tivessem fechaduras especiais e tu tivesses todas as chaves, poderias descobrir mil tesouros escondidos em tantos e tantos papéis esquecidos e rasgados, palavras e palavras... Ah, que loucura, quero dançar só porque me apetece... e não estou farta, e uso as reticencias como qualquer miúda apaixonada com 13 anos! Fazes parte das minhas reticencias. És o terceiro ponto. Escolhi esse porque é o que está mais longe, assim posso espiar-te sem saberes. Sabias que as árvores às vezes têm maçãs?

excerto de "a feira" (excerto de mim mesma algures em 2009)

"Se soubesse escrever inventaria uma história sobre a minha vida onde incluía leões, Reis e bailarinas dotadas. Barcos com velas cheias de vento na barriga e montanhas encorpadas vestidas de árvores e bichos. Sou uma cigana pobre e só, comigo apenas trago o saco com trapos que me deu meu pai no dia em que morreu, o coitado, já nem sabia quem era, quem foi. Também lhe contei histórias da sua vida, hoje, depois daqueles serões, ele parece-me um grande homem. Para mim a alegria da vida é acordar cedo e ir para a feira chamar as meninas e sussurrar-lhes sobre o amor, vê-las sorrir, bonitas e alegres. Sou uma farsa, porque na realidade também eu não passo de uma história contada por mim, e sou aquilo que eu quiser. Quem me dera poder ir dançar para os senhores da nobreza em troca de moedas de ouro, mas hoje em dia só há televisões a cores, das ciganas já ninguém fala. Saudades do tempo em que no Verão tirava os sapatos e corria descalça o tempo inteiro ignorando os avisos sábios da minha mãe que me advertia sobre as pedras mais malvadas. Nenhuma delas, nem as mais afiadas me fizeram calçar de novo as minhas sandálias. Dentro da minha cabeça a vida tem uma cor mais intensa, as pessoas são mais belas e as estradas são para andar nelas sem se pensar em voltar para trás. Pudesse eu dançar noite dentro e seria feliz numa cabana de estrelas."


(um dia com mais sol)

Last Goodbyes? Is this one?

rapariga com mala viajando sem destino . rapariga da carta sem resposta . guarda roupa sem mulher . dia de sol na praia com vento . janela aberta sem a passagem de nenhum Fernando Pessoa à hora combinada

Twisted


"My mind is twisted, i'm complicated 
and maybe a little bit crazy... but one 
thing is true in the middle of all this: 
I cannot unlove you"
Juliet Capulet

Há quem diga que já houve

Houve já destes dias? Dias em que comer cerejas não chega, dias em que os livros estão escritos em línguas que não percebemos, a música é barulho e a comida é lixo?
Há dias assim. Há estes dias que gostaríamos de apagar com a borracha da escola, como fazíamos antigamente nos nossos diários secretos. A tua mãe morreu - apaga - a mãe morreu. O teu namorado traiu-te sem querer - apaga - traíste-me. Gostas do teu amigo - apaga - gosto de ti. Traíste os teus princípios - apaga - não quero. Vêem como tudo seria tão mais fácil? 
Há estes dias em que, apesar do que toda a gente diz, apetece rebentar com tudo. Qual sol, qual praia, qual luz brilhante? Há apenas escuro, há medo. Há vontade de abraços e de verdade. Verdade! Chega do faz de conta e sorrisos falsos, da perfeição do super-mercado. Quero o feio, o grotesco, o retorcido, quero as pessoas verdadeiras que andam na rua mal vestidas e a cheirar mal. Vontade de gritar com toda a gente. 
Mas todos estamos cegos, cegos nos olhos, na boca e nos ouvidos, ninguém sente nada. O Saramago tem razão, estamos todos cegos. Estamos todos cego por dentro - como esperamos sentir o que quer que seja? Como queremos sentir o que quer que seja se já estamos mortos por dentro? Estamos mortos, só não o sabemos ainda. Não sabemos nada porque o que importa é que chegou a hora de ir jantar. Viver é para aprender a comer com garfo e faca. E vamos vivendo.

I want you, i want you so bad

(author: unknown)


quimera (é) 
(grego Khímaira, -as, Quimera, ser mitológico, de khímaira, -as, cabra jovem)

s. f.
1. Mit. Ser mitológico geralmente representado com um corpo híbrido entre leão, cabra e serpente ou dragão.
2. Coisa resultante da imaginação. = fabulação, fantasia, ilusão ≠ realidade
3. Esperança irrealizável. = utopia
4. Ictiol. Peixe condropterígio.