500 e uma divagações
Voar até o mundo acabar e não haver pessoas.
Voar até não haver mais asas para bater e então parar.
Pensava nisto antes de adormecer uma dessas noites. Pensava nisto e também em mudar de nome, mudar de casca, mudar tudo e ser outra pessoa, ter outra vida, uma vida perfeita. Mas foi também num desses passeios sem rumo que percebi que as vidas perfeitas não existem, assim sendo resta-nos recontá-las no papel, viver nas linhas a perfeição que não existe na vida. Uma espécie de copy paste da realidade nas entrelinhas da fantasia imaginada. Para vivermos todas essas vidas que gostaríamos teríamos de as registar no papel, fazer novelas e contos de fadas. Escrever é a libertação máxima, ainda que os haja, os censuradores, esses que nos querem entrar na cabeça e nas mãos e nas canetas e controlar o que escrevemos e pensamos. E ficamos com medo que destruam as nossas vidas, o nosso mundo de encantar. Ficamos com medo que até assim as nossas vidas perfeitas não sejam perfeitas.
Eu quero essas vidas todas que há dentro de mim! Quero a florista, a escultora e a cantora que existem dentro da minha cabeça. Quero a peixeira, a divorciada, a vendedora de carne! Sem as censurar, sem influenciar as suas escolhas e os sonhos que cada uma delas tem.
Voar até não haver mais asas para bater e então parar.
Pensava nisto antes de adormecer uma dessas noites. Pensava nisto e também em mudar de nome, mudar de casca, mudar tudo e ser outra pessoa, ter outra vida, uma vida perfeita. Mas foi também num desses passeios sem rumo que percebi que as vidas perfeitas não existem, assim sendo resta-nos recontá-las no papel, viver nas linhas a perfeição que não existe na vida. Uma espécie de copy paste da realidade nas entrelinhas da fantasia imaginada. Para vivermos todas essas vidas que gostaríamos teríamos de as registar no papel, fazer novelas e contos de fadas. Escrever é a libertação máxima, ainda que os haja, os censuradores, esses que nos querem entrar na cabeça e nas mãos e nas canetas e controlar o que escrevemos e pensamos. E ficamos com medo que destruam as nossas vidas, o nosso mundo de encantar. Ficamos com medo que até assim as nossas vidas perfeitas não sejam perfeitas.
Eu quero essas vidas todas que há dentro de mim! Quero a florista, a escultora e a cantora que existem dentro da minha cabeça. Quero a peixeira, a divorciada, a vendedora de carne! Sem as censurar, sem influenciar as suas escolhas e os sonhos que cada uma delas tem.
As mulheres e os Palhaços Viris
As mulheres depois de casadas ou em relações sérias deixam de querer ter sexo.
É verdade. Ninguém quer falar nisto mas sim, deixam de ter sexo. Não querem sexo.
A Pílula é sem duvida uma desculpa simpática. A pílula é a desculpa perfeita: "não é culpa tua, é minha".
A verdade é que as mulheres são bichos estranhos.
A verdade é que... as mulheres se desleixam.
Vestem-se mal, não cuidam da pele, não tratam as unhas nem arranjam o cabelo. A verdade é que as mulheres fazem isso tudo por um único motivo: ficarem o menos atraentes para os namorados / maridos.
Sim, é verdade. As mulheres não querem fazer sexo com os namorados / maridos. As mulheres não querem ter sexo com homens que limpam o nariz à hora do jantar e atiram os macacos para o chão, homem que se desleixam e ficam barrigudos, homens que subitamente sabem de todas as coisas do mundo e são mais inteligentes que o resto da humanidade, homens que se auto intitulam deuses de toda a sabedoria e razão, homens carrancudos com comandos de televisão na mão, homens que desfolham revistas com miúdas de 15 anos e fazem comentários ordinários.
Os homens têm que perceber que para uma mulher as coisas funcionam de forma diferente. E sim, as mulheres querem a vida perfeita e o homem perfeito e aí... haverá sexo.
É verdade. Ninguém quer falar nisto mas sim, deixam de ter sexo. Não querem sexo.
A Pílula é sem duvida uma desculpa simpática. A pílula é a desculpa perfeita: "não é culpa tua, é minha".
A verdade é que as mulheres são bichos estranhos.
A verdade é que... as mulheres se desleixam.
Vestem-se mal, não cuidam da pele, não tratam as unhas nem arranjam o cabelo. A verdade é que as mulheres fazem isso tudo por um único motivo: ficarem o menos atraentes para os namorados / maridos.
Sim, é verdade. As mulheres não querem fazer sexo com os namorados / maridos. As mulheres não querem ter sexo com homens que limpam o nariz à hora do jantar e atiram os macacos para o chão, homem que se desleixam e ficam barrigudos, homens que subitamente sabem de todas as coisas do mundo e são mais inteligentes que o resto da humanidade, homens que se auto intitulam deuses de toda a sabedoria e razão, homens carrancudos com comandos de televisão na mão, homens que desfolham revistas com miúdas de 15 anos e fazem comentários ordinários.
Os homens têm que perceber que para uma mulher as coisas funcionam de forma diferente. E sim, as mulheres querem a vida perfeita e o homem perfeito e aí... haverá sexo.
ares da montanha III (sem acentos)
O tempo e meu. Eu sou o tempo que quiser. Decido o que fazer com ele, quando me apetece. Posso usa-lo para cheirar flores, para fazer ou nao fazer o que quer que seja, eu controlo os ponteiros, somente eu.
Sou os segundos.
Frenetica, intensa, apaixonada e voluvel, louca instavel. Mudo de ideias de repente sem avisar ninguem, rebento em gargalhadas cortantes depois de lagrimas gordas terem rolado. Sou livre para me deixar passar pela vida das pessoas e nao me prender, namoriscar cada numero do relogio, roubar beijos, criar sonhos num segundo, uma vida inteira no momento.
Sou os minutos.
Elegante. Contida, controladora. Faco listas e bebo os cafes nos tempos certos. Coerencia verbal, coerencia fisica. Sou acertiva, cruel, cortante, recta, segura. Sei o que fazer no minuto certo.
Sou as horas.
Aproveito o sol, o dia. Fecho os olhos e durmo na relva. Ouco os passaros. Observo os ramos que se movem com o batucar do vento. Cheiro o aroma do mar que viajou ate a minha janela. Choro emocionada com a danca dos raios de luz furtivos que escapam entre as cortinas. Devoro livros e bebo poesia.Sou as horas e absorvo tudo com eloquencia, sabedoria e calma.
Sou os segundos.
Frenetica, intensa, apaixonada e voluvel, louca instavel. Mudo de ideias de repente sem avisar ninguem, rebento em gargalhadas cortantes depois de lagrimas gordas terem rolado. Sou livre para me deixar passar pela vida das pessoas e nao me prender, namoriscar cada numero do relogio, roubar beijos, criar sonhos num segundo, uma vida inteira no momento.
Sou os minutos.
Elegante. Contida, controladora. Faco listas e bebo os cafes nos tempos certos. Coerencia verbal, coerencia fisica. Sou acertiva, cruel, cortante, recta, segura. Sei o que fazer no minuto certo.
Sou as horas.
Aproveito o sol, o dia. Fecho os olhos e durmo na relva. Ouco os passaros. Observo os ramos que se movem com o batucar do vento. Cheiro o aroma do mar que viajou ate a minha janela. Choro emocionada com a danca dos raios de luz furtivos que escapam entre as cortinas. Devoro livros e bebo poesia.Sou as horas e absorvo tudo com eloquencia, sabedoria e calma.
ares da montanha II (sem acentos)
A mulher, sozinha, chorava
Tinha medo da montanha e do escuro
Vestia-se de folhas e gemia de frio
Chorava de noite e ria durante o dia.
A mulher vivia sozinha e nao sabia falar,
A mulher era um monstro em cima do altar.
A mulher nao sabia nada do mundo
Mas fazia-o rodar em cima do seu dedo polegar
Comia bagas e bebia do rio sem conseguir apaziguar
A sede que queria matar.
A mulher era grande, com um sorriso rasgado
Que nao conseguia guardar.
A mulher gostava de homens, ainda assim
Nao sabia amar. A mulher
era uma virgem gigante sem lugar para descansar.
Tinha medo da montanha e do escuro
Vestia-se de folhas e gemia de frio
Chorava de noite e ria durante o dia.
A mulher vivia sozinha e nao sabia falar,
A mulher era um monstro em cima do altar.
A mulher nao sabia nada do mundo
Mas fazia-o rodar em cima do seu dedo polegar
Comia bagas e bebia do rio sem conseguir apaziguar
A sede que queria matar.
A mulher era grande, com um sorriso rasgado
Que nao conseguia guardar.
A mulher gostava de homens, ainda assim
Nao sabia amar. A mulher
era uma virgem gigante sem lugar para descansar.
ares da montanha (sem acentos)
Havia um homem que viajava de mota.
Viajava sem parar dias a fio, nem a chuva o demovia.
Fugia do passado, da vida do dia-a-dia. Julgava, dizem,
que a viagem lhe traria a saudade, mas quanto mais viajava
menos sentia sobre as coisas que deixara ficar, na esperanca
de as vir a recuperar. O homem perdeu-se na sua procura.
As barbas cresceram, o tempo passou e ele jamais se encontrou.
Viajava sem parar dias a fio, nem a chuva o demovia.
Fugia do passado, da vida do dia-a-dia. Julgava, dizem,
que a viagem lhe traria a saudade, mas quanto mais viajava
menos sentia sobre as coisas que deixara ficar, na esperanca
de as vir a recuperar. O homem perdeu-se na sua procura.
As barbas cresceram, o tempo passou e ele jamais se encontrou.
sem acentos, sem poiso, aves que voam sem parar
Ha de facto um grito que se quer soltar. Nao vamos nega-lo.
Ele esta vivo e quer sair, quer ecoar contra as rochas da montanha, quer despenhar-se desses precipicios sem fim, rebolar abismo adentro e morrer no horizonte.
Ha sonhos que querem nascer, como as folhas dos fetos. Pisamo-los e eles resistem, esmagamo-los e eles sobrevivem. Nao sabemos o que fazer com eles, sonhos e gritos misturam-se, confundem-se, diluem-se na chuva mas nunca desaparecem. Ha sentimentos que querem morrer mas nao deixamos, queremo-los so para nos, ainda que velhos e moribundos - os amores de Verao, as paixoes de infancia.
Ninguem se importa, deixemo-nos ir, qual avalanche, desfazendo tudo a nossa passagem, destruindo tudo e todos ate nao restar nada, apenas gritos no vazio.
Ele esta vivo e quer sair, quer ecoar contra as rochas da montanha, quer despenhar-se desses precipicios sem fim, rebolar abismo adentro e morrer no horizonte.
Ha sonhos que querem nascer, como as folhas dos fetos. Pisamo-los e eles resistem, esmagamo-los e eles sobrevivem. Nao sabemos o que fazer com eles, sonhos e gritos misturam-se, confundem-se, diluem-se na chuva mas nunca desaparecem. Ha sentimentos que querem morrer mas nao deixamos, queremo-los so para nos, ainda que velhos e moribundos - os amores de Verao, as paixoes de infancia.
Ninguem se importa, deixemo-nos ir, qual avalanche, desfazendo tudo a nossa passagem, destruindo tudo e todos ate nao restar nada, apenas gritos no vazio.
Pandora
Não são apenas palavras, estas fazem sentido.
Aqui vou eu, para mais um mergulho na caixa das emoções.
Aqui vou eu, para mais um mergulho na caixa das emoções.
cabeça de sobrancelha
cabeça de anormal
cabeça de roupa feia
cabeça de pessoa estúpida
enfim...
escárnio e mal dizer é fácil da gente fazer
cabeça de roupa feia
cabeça de pessoa estúpida
enfim...
escárnio e mal dizer é fácil da gente fazer
dias
Estou com vontade de sair daqui, vaguear... quero somente vaguear rua fora.
Vou ao café, vou ao café matar esta cabeça de enguia.
Vou ao café, vou ao café matar esta cabeça de enguia.
Biografia - fragmentos
Cresci numa casa cheia de silêncio. Herdei, de pai e mãe, os olhos que querem ver tudo e a boca pequena que não gosta de falar, boca que não sabe falar. Cresci numa casa cheia de histórias. A mãe trabalhava com as suas mãos sem parar e, sempre a trabalhar, tecia os dias, inventando tarefas para enganar a louca solidão dos anos de reclusão. Mãos que nunca paravam para abraçar. Houve um Inverno, quando as minhas pernas já sabiam andar, que me adormeci no seu quente abraço, respirando aquele cheiro de mãe, respirando o amor.
Eu cresci e a casa foi crescendo também, mais quartos, cozinhas, salas, mais silêncio, mais solidão, mais mãos ocupadas para não darem lugar ao carinho.
Eu cresci e a casa foi crescendo também, mais quartos, cozinhas, salas, mais silêncio, mais solidão, mais mãos ocupadas para não darem lugar ao carinho.
to awake is to kill a dream
Hoje pensei em ti. Nem sempre o faço, a roda da vida distrai-nos com muitas imagens, os sons roubam-nos os pensamentos e, as filas no supermercado não sendo maiores com o passar do tempo. Hoje pensei em ti e lembrei-me da simplicidade do Verão quando vivíamos juntas. As janelas escancaradas para a rua, a rua escancarada para nós, mostrando-nos os passos dos vizinhos que olhavam de soslaio o candeeiro do quarto. Lembrei-me das conversas, das gargalhadas e de adormecermos juntas, éramos como verdadeiras irmãs - de sangue. Havia aquela ligação que vai para lá do compreensível, havia os segredos, a partilha de sonhos e de medos. Hoje pensei em ti e esse pensamento vinha revestido de uma saudade que desconhecia. Era como se tudo tivesse acontecido há tanto tempo que a memória se desbota já, como as camisolas favoritas quando lavadas muitas vezes. Saudades tuas, Sarita.
O sol deste Verão sabe a saudade...
Há dias em que o tempo parece ter desaparecido. Há dias em que parece não termos vivido o suficiente para o tempo ter voado desta maneira.
Há uma menina que vai viajar... that girl is like a wild horse, man! A wild horse...
21 dias
21 sonhos, 21 mundos
É verdade, a India está no meu coração e, o meu coração está na India.
Delhi - Amritsar - Dharamshala - Mandi - Rewalsar - Manali - Naggar - Shimla - Jaipur - Agra - Gaya - Varanasi - Delhi
eu sei que vou te amar
(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente eu sei que vou te amar
E cada verso meu será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
(ai ai, há dias assim)
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente eu sei que vou te amar
E cada verso meu será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
(ai ai, há dias assim)
um brinde aos bons velhos tempos, os tempos com baloiços, relva e risos noite adentro. um brinde a esses eus que nos visitam em sonhos!
I'm so alone tonight
My bed feels larger than when I was small
Lost in memories
Lost in all the sheets and old pillows
So alone tonight
Miss you more than I will let you know
Miss the outline of your back
Miss you breathing down my neck
They're all out to get you
Once again
Insecure, what you gonna do
Feel so small they could step on you
Called you up, answering machine
When the human touch
Is what is need
What I need
Is you
I need you
Looked in the mirror, I don't know who I am anymore
The face is familiar
But the eyes, the eyes give it all away
They're all out to get you
Once again they're all out to get you
Here they come again
Insecure what you gonna do
Feel so small they could step on you
Called you up, answering machine
When the human touch
O Lobo e o Capucho (verde, azul ou vermelho)
- Eu gosto de ti – disse o lobo desviando o olhar para a gigantesca e secular oliveira. O Capuchinho Vermelho não disse nada. Não sabia o que dizer embora gostasse de dizer qualquer coisa ao envergonhado lobo que agora parecia perder-se em pensamentos só seus.
- Sabes que há regras – balbuciou o desajeitado Capuchinho Vermelho (ou azul, ou verde, conforme quiserem) – Os Lobos e os Capuchos não devem gostar uns dos outros, esta escrito e sempre foi assim. O autor devia ter as suas razões.
O Lobo suspirou. O Lobo não queria saber de regras nem de coisas que estavam escritas.
- Gosto de ti – voltou a dizer.
O Capucho pousou a pesada cesta de sonhos e desejos e sentou-se num tufo de relva. Cruzou as pernas e sorriu. Não havia pressa. Nem sabia porque tinha de atravessar a floresta, nem sabia muito menos porque é que o Lobo era Lobo e porque é que ele era Capuchinho Vermelho (ou verde ou azul).
Talvez não houvesse nada a dizer. Era o começo.
- Sabes que há regras – balbuciou o desajeitado Capuchinho Vermelho (ou azul, ou verde, conforme quiserem) – Os Lobos e os Capuchos não devem gostar uns dos outros, esta escrito e sempre foi assim. O autor devia ter as suas razões.
O Lobo suspirou. O Lobo não queria saber de regras nem de coisas que estavam escritas.
- Gosto de ti – voltou a dizer.
O Capucho pousou a pesada cesta de sonhos e desejos e sentou-se num tufo de relva. Cruzou as pernas e sorriu. Não havia pressa. Nem sabia porque tinha de atravessar a floresta, nem sabia muito menos porque é que o Lobo era Lobo e porque é que ele era Capuchinho Vermelho (ou verde ou azul).
Talvez não houvesse nada a dizer. Era o começo.
Viajando no tempo 2
Hoje, acordei com aquela sensação terrível, aquela que devasta os dias de sol, aquela que nos transforma em gigantes gordos e pesados. Acordei com a sensação que não existe lugar algum para onde eu possa ir; acordei tendo somente na cabeça a pergunta arrasadora: para onde vou agora? Que lugar? (pensei no singular, pareceu-me mais objectivo, mais eficaz - mas nada.) Que lugares? Nada. E de um momento para o outro (sem que eu reparasse nas artes magicas que foram usadas para aquele efeito) o mundo tinha-se transformado num pequeníssimo berlinde que eu remexia por entre os dedos sem saber o que fazer com ele.
Mas não era assim. Eu estava suspensa no universo tentando segurar-me com o meu dedo indicador todo torcido naquele berlinde que rodava lento e placidamente à volta do sol. Exagero ou não, é devastador acordar e o mundo ser do tamanho de um berlinde. Subitamente, não há lugar para nós e somos como sacos vazios que penduram na varanda e que são sacudidos e empurrados pelo vento de um Dezembro húmido que, por algum motivo alheio, não quer parecer Natal (e o cheiro a pinho? E o frio? E a geada? Eu sei que não é Dezembro, mas para mim é como se fosse, ora!).
Como é possível não haver lugares, e pessoas, ruas? Como é possível não haver pessoas na rua que sabem onde estão os lugares que querem?
Que quero eu? (e esta pergunta parece tão solitária e frágil no meio de uma rua gigantesca que se prolonga até à linha do horizonte)
«Não posso responder eu… eu sou um saco vazio e inútil a ser arrastado pelo vento.»
«Quem… quem falou, quem foi?» Olhei para baixo e lá estava ele, um simples saco branco, cheio, cheio de ar.
«Sou um monstro e estou a escorregar do mundo, tão te assusto?»
«Não sei o que são monstros.» respondeu o saco timidamente.
Peguei-lhe. Apertei-o contra o peito e o saco estremeceu, nunca ninguém lhe tinha pegado daquela forma – exceptuando a Srª. Almerinda que o transportou cheio de alfaces desde a mercearia do Sr. António Teixeira (que também tinha pegado nele mas de uma forma brusca, tinha-o sacudido duas vezes e tudo, o homem era um mal encarado) até casa de uma vizinha sua (a Dona Aninhas) que lhe tinha feito umas encomendas (encomendas essas que incluíam as alfaces), a pobre senhora já não podia sair de casa por causa do reumático do joelho esquerdo e, logo após ter guardado as alfaces na gaveta do lado esquerdo do seu antiquíssimo frigorífico da Oliva, a velha o atirou para o quintal com um ar de desprezo transmitindo ao pobre saco uma sensação de inutilidade; mas mesmo nessas mãos, não sentira aquilo, aquele… carinho.
Naquele momento eu era o saco e o saco era eu.
Não podia simplesmente estar ali, em Lugar Nenhum, vendo aquele saco tão perdido e tão infeliz e não fazer nada. Podia partilhar o Lugar Nenhum com ele, segura-lo pela asa e…
«Mas tu tens asas!», exclamei.
«Sim.»
«Então, és tu que voas por onde queres?» Que pergunta idiota.
«Os sacos não voam. Os sacos são sacos e não penso que muitos se preocupem com isso.»
Quedei-me naquela resposta. Metaforicamente todos temos asas (é a forma que usamos para nos sentirmos capazes de tudo, capazes de sonhos sem fim). Tínhamos mais um ponto em comum eu e aquele saco branco. Coloquei a asa do saco na minha orelha esquerda (como se faz com as cerejas! Ah, como gosto de cerejas!) e podia jurar que o vi corar. De repente, aquele saco branco ficou ligeiramente róseo ao toque com a minha face.
«Não sei para onde vou.» Disse-lhe. Não queria equivoca-lo.
«Leva-me contigo.»
Sorri.
Afinal os dias assim, em que o mundo é um berlinde e nós monstros presos por um dedo e suspensos sobre a imensidão do espaço, afinal, afinal os dias assim podem ser dias de grandes achados. Começou a chover (eu gosto de escrever quando chove!). Abri o guarda-chuva. Por longos momentos ficámos em Lugar Nenhum a ver as gotas a beijarem o chão e a fazer centenas de círculos perfeitos para logo desaparecerem e aparecerem outros e mais, aos milhares! E depois? Depois não sei. Os Lugares Nenhum estão em todo o lado, um pouco como o pó de arroz – nem sei bem porquê.
Mas não era assim. Eu estava suspensa no universo tentando segurar-me com o meu dedo indicador todo torcido naquele berlinde que rodava lento e placidamente à volta do sol. Exagero ou não, é devastador acordar e o mundo ser do tamanho de um berlinde. Subitamente, não há lugar para nós e somos como sacos vazios que penduram na varanda e que são sacudidos e empurrados pelo vento de um Dezembro húmido que, por algum motivo alheio, não quer parecer Natal (e o cheiro a pinho? E o frio? E a geada? Eu sei que não é Dezembro, mas para mim é como se fosse, ora!).
Como é possível não haver lugares, e pessoas, ruas? Como é possível não haver pessoas na rua que sabem onde estão os lugares que querem?
Que quero eu? (e esta pergunta parece tão solitária e frágil no meio de uma rua gigantesca que se prolonga até à linha do horizonte)
«Não posso responder eu… eu sou um saco vazio e inútil a ser arrastado pelo vento.»
«Quem… quem falou, quem foi?» Olhei para baixo e lá estava ele, um simples saco branco, cheio, cheio de ar.
«Sou um monstro e estou a escorregar do mundo, tão te assusto?»
«Não sei o que são monstros.» respondeu o saco timidamente.
Peguei-lhe. Apertei-o contra o peito e o saco estremeceu, nunca ninguém lhe tinha pegado daquela forma – exceptuando a Srª. Almerinda que o transportou cheio de alfaces desde a mercearia do Sr. António Teixeira (que também tinha pegado nele mas de uma forma brusca, tinha-o sacudido duas vezes e tudo, o homem era um mal encarado) até casa de uma vizinha sua (a Dona Aninhas) que lhe tinha feito umas encomendas (encomendas essas que incluíam as alfaces), a pobre senhora já não podia sair de casa por causa do reumático do joelho esquerdo e, logo após ter guardado as alfaces na gaveta do lado esquerdo do seu antiquíssimo frigorífico da Oliva, a velha o atirou para o quintal com um ar de desprezo transmitindo ao pobre saco uma sensação de inutilidade; mas mesmo nessas mãos, não sentira aquilo, aquele… carinho.
Naquele momento eu era o saco e o saco era eu.
Não podia simplesmente estar ali, em Lugar Nenhum, vendo aquele saco tão perdido e tão infeliz e não fazer nada. Podia partilhar o Lugar Nenhum com ele, segura-lo pela asa e…
«Mas tu tens asas!», exclamei.
«Sim.»
«Então, és tu que voas por onde queres?» Que pergunta idiota.
«Os sacos não voam. Os sacos são sacos e não penso que muitos se preocupem com isso.»
Quedei-me naquela resposta. Metaforicamente todos temos asas (é a forma que usamos para nos sentirmos capazes de tudo, capazes de sonhos sem fim). Tínhamos mais um ponto em comum eu e aquele saco branco. Coloquei a asa do saco na minha orelha esquerda (como se faz com as cerejas! Ah, como gosto de cerejas!) e podia jurar que o vi corar. De repente, aquele saco branco ficou ligeiramente róseo ao toque com a minha face.
«Não sei para onde vou.» Disse-lhe. Não queria equivoca-lo.
«Leva-me contigo.»
Sorri.
Afinal os dias assim, em que o mundo é um berlinde e nós monstros presos por um dedo e suspensos sobre a imensidão do espaço, afinal, afinal os dias assim podem ser dias de grandes achados. Começou a chover (eu gosto de escrever quando chove!). Abri o guarda-chuva. Por longos momentos ficámos em Lugar Nenhum a ver as gotas a beijarem o chão e a fazer centenas de círculos perfeitos para logo desaparecerem e aparecerem outros e mais, aos milhares! E depois? Depois não sei. Os Lugares Nenhum estão em todo o lado, um pouco como o pó de arroz – nem sei bem porquê.
Viajando no tempo
Hoje pus-me a pensar. E se pudéssemos tomar uma decisão que sabemos que vai mudar tudo? E se essa decisão fosse largares tudo e seguires uma estrada que não conheces, mesmo que assombrada, mesmo que abandonada?! Sabes que há curvas fechadas, poderão haver poços ou castelos em ruinas, pomares ou quem sabe amendoeiras, mas estás antes da curva fechada. Se pensarmos nisso de repente já nem na estrada antes da curva estamos...
Importa onde estamos agora e o que vemos. Aqui há só a estrada antes da curva e antes da curva há a estrada sem curva nenhuma.
Porque será que passamos a vida inteira a tentar planear tudo e a tentar seguir linhas e traços e picotados que nem sempre sabemos de onde saíram e quem os inventou?
Pega num lápis, já!, traça tu essa estrada! Ah, quando chegarmos lá saberemos!
Importa onde estamos agora e o que vemos. Aqui há só a estrada antes da curva e antes da curva há a estrada sem curva nenhuma.
Porque será que passamos a vida inteira a tentar planear tudo e a tentar seguir linhas e traços e picotados que nem sempre sabemos de onde saíram e quem os inventou?
Pega num lápis, já!, traça tu essa estrada! Ah, quando chegarmos lá saberemos!
pseudomorfose - os meus eus, os que sabem escrever
::eu andei a procurar por todas as vidas uma para copiar e nenhuma era para copiar::
Eva - Primeiro pseudónimo criado em 2005 a partir de uma estranha fixação que desenvolvi em relação às personagens bíblicas Adão e Eva.
Lolita - Criado em 2006, nome escolhido para marcar a nova forma de encarar a vida, mais ousada, sedutora e livre.
Eme - (2006) Pseudónimo criado a partir do som da letra «M».
Pea - (2006) Pseudónimo baseado no gosto ou não gosto generalizado por ervilhas.
Akiko - (2006) Pseudónimo criado a partir de uma lista gigante com nomes começados pela letra «a» (a primeira letra e a primeira vogal do alfabeto), nome japonês sem significado, o que me agradou e libertou de associações futuras.
Dorothy - (2006) Pseudónimo baseado na personagem do Feiticeiro de Oz. Marca essa busca constante pelo caminho certo.
Juliet - (2006) Pseudónimo baseado na famosa personagem da peça de teatro de William Skakespeare que pretende caricaturizar o meu lado mais tonto.
Lea - (2006) Pseudónimo criado a partir da mudança da letra «e» na palavra «ela».
Maria Bonita - (2006) Pseudónimo criado num passeio de domingo e baseado numa loja de roupa infantil da zona sul de Matosinhos.
Maria Caxuxa - (2007-2008) Porque me identificava com as cores garridas e populares que este nome me transmite. Pseudónimo que me recordava a infância e esses eus do passado. Eu antigo.
Maria Papoila - (2008) Porque comprei um chapéu vermelho com abas largas! Porque as flores haviam florido e a primavera tingia a vida com as suas cores e cheiros.
Marie MaChérie - (2009) Chérie, o nome perfeito para um poodle. O nome perfeito para a infantilidade e "PeterPannísse" que me invadiu.
Narcisa - (2010) Pseudónimo baseado na lenda de Narciso. O eu que desconheço fascina-me e inspira-me.
Quem saberá o virá a seguir?
pede um desejo
Este blog faz 3 anos.
Com 3 anos já sabe dizer qualquer coisa,
tem alguma piada e até eloquência.
Com 3 anos já sabe dizer qualquer coisa,
tem alguma piada e até eloquência.
Parabéns a você, sim, a ti!
Parabéns por vires aqui.
Isso alegra-me!
Isso alegra-me!
Obrigada.
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