Só
Há um certo alívio por ter conseguido apagar-te, como se nunca tivesses sido importante, mas ao mesmo tempo, este alívio vem carregado de uma tristeza enorme, como se fosses mais uma morte que tenho que resolver.
Este mês, este mês putrefacto, em que o corpo da minha avó se desfaz para sempre na minha memória, e tu com ela.
E porque junto as duas coisas?
Porque perdi a última mulher da minha vida, a última mulher que me chamava " Meu amor".
E porque junto as duas coisas?
Porque perdi a última mulher da minha vida, a última mulher que me chamava " Meu amor".
Well I don't really know
I know it ain't easy
Being left on your own
Why did you leave me
Well I don't really know
And why wait another day
When a day won't change a thing | Bad Girl,Devendra Banhart
O silêncio
Se soubesses que este silêncio esconde tantas palavras.
Não serão tuas, jamais.
Assim será.
Não serão tuas, jamais.
Assim será.
O primeiro amor.
João, hoje pensei muito em ti.
Lembrei-me da nossa infância juntos - infantário, primária, preparatória... de quando brincávamos com os teus playmóbil, de quando brincavámos no recreio ao faz de conta das novelas e tu dizias que eras o Tony Ramos, e eu acenava que não com a cabeça em discordância e desagrado - a ideia de ti com aqueles pêlos no peito não fazia sentido na minha cabeça.
Lembrei-me de quando iamos andar de baloiço no jardim do Sr. Eurico, mesmo quando o Carlitos não estava. Lembrei-me de quando tinhas que escolher entre mim e a Joana, e só podias escolher uma como tua namorada - e eu não me importava que escolhesses sempre a Joana.
Nós tínhamos a nossa amizade disfuncional, ia para alem de estratos sociais. Era uma relação retorcida, juntos fazíamos coisas que hoje ainda tenho dificuldade em admitir - mas eramos cúmplices, e tu vinhas sempre tirar-me do meu casulo.
Tínhamos o nosso mundo de fantasia e um mundo que nos separava, mesmo quando me davas a mão e me apertavas os dedos até doer, eu gostava de ti na mesma.
Sinto saudades tuas. Nos últimos anos não sabia nada de ti e tu nada de mim, e muitas vezes tenho pena que nos tenhamos afastado tanto.
O mês da tua morte foi o mês da minha libertação. Liguei sempre as duas coisas, como um aviso.
Meu amor, o primeiro, sinto-te a falta.
Lembrei-me da nossa infância juntos - infantário, primária, preparatória... de quando brincávamos com os teus playmóbil, de quando brincavámos no recreio ao faz de conta das novelas e tu dizias que eras o Tony Ramos, e eu acenava que não com a cabeça em discordância e desagrado - a ideia de ti com aqueles pêlos no peito não fazia sentido na minha cabeça.
Lembrei-me de quando iamos andar de baloiço no jardim do Sr. Eurico, mesmo quando o Carlitos não estava. Lembrei-me de quando tinhas que escolher entre mim e a Joana, e só podias escolher uma como tua namorada - e eu não me importava que escolhesses sempre a Joana.
Nós tínhamos a nossa amizade disfuncional, ia para alem de estratos sociais. Era uma relação retorcida, juntos fazíamos coisas que hoje ainda tenho dificuldade em admitir - mas eramos cúmplices, e tu vinhas sempre tirar-me do meu casulo.
Tínhamos o nosso mundo de fantasia e um mundo que nos separava, mesmo quando me davas a mão e me apertavas os dedos até doer, eu gostava de ti na mesma.
Sinto saudades tuas. Nos últimos anos não sabia nada de ti e tu nada de mim, e muitas vezes tenho pena que nos tenhamos afastado tanto.
O mês da tua morte foi o mês da minha libertação. Liguei sempre as duas coisas, como um aviso.
Meu amor, o primeiro, sinto-te a falta.
Nó na garganta
É engraçado como há dias em que é fácil cortar as veias e deixar jorrar todo o veneno até não sobrar nenhuma gota. Depois há estes dias, como os de hoje. Compridos, pardacentos e esquesitos em que o nó da garganta quase nos corta a cabeça. Não se faz nada, não se consegue dizer nada também, e arranha-se a pele com as unhas na tentativa desesperada de nos sentirmos vivos uns segundos. Queremos parar o tempo e perceber como chegamos aqui, em que esquina viramos, quem assinou os papéis, porque não gritamos?
É tarde de mais para nós.
É tarde de mais para nós.
A música certa no momento certo. Devendra Banhart.
"If he ever treats you bad
Please remember how much worse I treated you
If he doesn't try his best
Please remember that I never tried at all
And if he makes you cry a lot
Please remember that with me you never stopped
I never held on long enough to let you go"
Cartas | meia noite e um copo a mais | o amor terrível
e pousando a caneta no papel sei que nunca lerás esta palavras. é com hesitação que as escrevo, como se abrisse sulcos na pele. há uma sensação de alivio e tristeza, pois se as escrevo, é porque de certa maneira gostaria que chegassem a ti. no entanto, escrevo-as cobardemente porque sei que que nunca as vais ler. das outras vezes, aquelas em que rabisquei algumas folhas, sabia do perigo. que no papel haveria essa possibilidade ínfima de te dar essas cartas, de tas colocar no bolso, de te as enviar de alguma maneira... aqui, nesta gruta, sei que os gritos não serão jamais escutados. gostaria apenas de te dar a mão mais uma vez. mas sei que não é possível, porque depois de sentir a tua pele, iria querer mais e mais, ate ao infinito... e morreria, como uma mariposa que se aproximou demasiado da luz. o meu amor por ti queima... e eu não consigo parar, esta doença... o meu amor é terrível.
A janela aberta
Se eu morrer, que coisas embaraçosas poderiam encontrar entre os meus pertences amanhã?
Algumas carta de amor? Um vibrador? Um ou dois CD's foleiros? Sapatos que nunca usei? O que é que essas coisas diriam de mim e da pessoa que fui? Quão de mim fazem parte esses objetos?
Algumas carta de amor? Um vibrador? Um ou dois CD's foleiros? Sapatos que nunca usei? O que é que essas coisas diriam de mim e da pessoa que fui? Quão de mim fazem parte esses objetos?
A usar demasiado as reticências.
re·ca·í·da
substantivo feminino
1. .Ato de recair na mesma culpa, erro, etc.
2. Reincidência.
3. Novo ataque de uma doença que sobrevém antes de se estar completamente curado do primeiro.
Al Berto (excerto)
um soneto com um coração de cinza e
uma flor escondida na circulação do sangue
...aqui está tudo o que possuo
a noite e o sorriso amargo de quem não ama
uma flor escondida na circulação do sangue
...aqui está tudo o que possuo
a noite e o sorriso amargo de quem não ama
Tumulto
Consigo sentir a vaga de lágrimas a aproximar-se. Sei que chegará o dia em que vou debulhar-me em soluços... por mim, por ti, por nós. Porque julguei ter aniquilado todos estes sentimentos, julguei ter feito sacrifícios suficientes. Julguei ter criado distâncias suficientes.
Esta constante dualidade de querer sentir tudo com intensidade, e ao mesmo tempo a necessidade de não sentir nada para poder não pensar em ti.
Esta constante dualidade de querer sentir tudo com intensidade, e ao mesmo tempo a necessidade de não sentir nada para poder não pensar em ti.
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