Precisava de sentir as velhas viagens de comboio. A velocidade, o barulho, aquele cheiro que só as linhas de comboio têm. A paisagem passando lenta do lado de lá do vidro que impede o calor de entrar e de me tocar o cabelo. É somente esse pequeno pormenor que me faz falta para acordar só mais um bocadinho para os dias de Verão. Essa espécie de pausa entre o tempo e os lugares que conhecemos, bem ou mal. E um menino pequenino de olhos grandes e pretos pergunta-me: "queres que te empreste o meu?", olho-lhe para as mãos, uma velha e ferrugenta locomotiva da lata pende-lhe dos dedos magros e pequenos. "Levas-me a passear nele?", perguntei-lhe eu, tentando esconder por de trás das grossas pestanas a emoção que cresce num coração a dormitar.
Sentados lado a lado lá ficamos a ver o jardim
através das minúsculas janelas daquele esquecido comboio de lata. E que bem que me fez aquela viagem por esses mundos imaginados por aquela criança, que inventei ou que conheci, e que os descrevia
tão bem com cores de lápis de cera!
[s/ título, agosto de 2007
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