Pre - Post Mortum Letter
"Eu quero escrever um livro".
Acordou com essa ideia tresloucada, a ideia de construir casas com palavras em vez de usar as peças azuis do lego, peças essas que haviam sido as suas favoritas desde sempre. Comprou um bloco de folhas branco e uma caneta azul, e foi sentar-se num banco de jardim à espera de se sentir inspirado. Para ele a inspiração era um acto divino, um momento de magia em que qualquer pessoa se sentiria iluminada e capaz de criar coisas fantásticas. Mal ele imaginava que também Carina, a prostituta mais famosa da casa da Gina, se sentira inspirada certa vez ao desabotoar os botões das calças do seu primeiro namorado, aos 14 anos, e que depois desse momento sentiu que havia muitas outras que gostaria de desabotoar. A vida tem muitos mistérios difíceis de desvendar, especialmente para os pais da Carina que a expulsaram de casa quando souberam que aquele novo par de jeans havia sido oferecido em troca de caricias.
Sebastião esperou naquela tarde, sentado no banco pela vontade de escrever. Para ele, era a última oportunidade de se sentir útil aos 13 anos.
O sol estava quente, as pessoas caminhavam de cá para lá, aproveitando aquele dia acolhedor.
Nada acontecia.
Desanimado, mas terrivelmente decidido, deixou no banco o seu bloco e caneta novos e dirigiu-se ao mar.
Naquele momento, Sebastião tinha somente uma vontade, enfrentar o medo da água que o acompanhava desde os 4 anos, e afogar-se no pontão norte.
Três horas depois Sebastião era dado como desaparecido. Três dias depois foi encontrado na praia, como uma garrafa de náufrago vazia.
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