contado, ninguém acredita

Os meus casacos de Inverno estão zangados comigo. Eu não me tinha apercebido de nada pois tinha-os guardados no armário com a porta entreaberta. Hoje, porém, apercebi-me de tudo. Era uma zaragata pegada quando a porta se abriu: a Sra. Gabardina Amarela enroscou-se de tal forma em torno do Mangas de Três Quartos Roxo que este, coitadinho, estava todo enrugado que parecia que tinha envelhecido uns bons anos, sacudi-lhe o lombo mas ele até me pareceu pálido. O seu primo, o Sr. Três Quartos de Lã tentava sufocar o Casaco Preto, como se não quisesse que eu o visse. Coloquei-os em cabides diferentes que eu não gosto destas confusões. O Casaco de Pele fugiu para a sala e atirou-se para cima do sofá numa lamuria que só visto, até os gatos se admiraram (ele costuma ser tão pomposo). O Casaco Cinzento, ancião, encostou-se ao fundo do armário e virou-me as costas, recusou-se a falar comigo, mesmo quando lhe pedi que interviesse e me ajudasse a resolver aquele festim de tecidos revoltados. Quando tudo se endireitou, cada um no seu cabide, lá percebi o que se passava: estavam todos com ciúmes do meu Casaco Novo. O meu Casaco Novo está a viver connosco à 2 meses, e como tal, para o ambientar à nova família, usei-o diariamente, e todos os outros casacos ficaram muito revoltados pois achavam que já ninguém os iria usar este Inverno. Tive de prometer que repartiria com todos estes dias de frio. Uma coisa é certa, não volto a sair de casa com a porta do armário entreaberta - pior que os dias frios são os casacos a fazer birras.

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