Finanças

Foi a folhear o obituário naquela cadeira de Instituição Pública das Finanças Nacionais, enquanto uns se embrenhavam nas filas e outros quebravam cabeças a tentar perceber qual dos "tiquets" escolher, que aquele senhor de cabelos brancos percebeu que a sua vida não era nada mais nada menos do que um conjunto de histórias banais, exactamente como o jornal que segurava entre as mãos. Umas histórias interessantes, algumas tristes, outras ridículas. Percebeu também naquele instante que um dia estaria também ali a notícia da sua morte, escarrapachada com um resumuzinho da sua vida, mas no jornal de outra pessoa. Não quis ler mais. Dobrou delicadamente o jornal e deitou-o fora, compreendeu que até ali a sua vida tinha sido, à falta de palavra melhor - miserável. Aquele jornal tinha falta de qualidade, quem o quereria ler? Saiu consternado e com a ideia de fazer algo melhor, por si, na esperança de construir um melhor obituário mas também um melhor jornal de si próprio, mais feliz, completo e verdadeiro. Assim que saiu chamaram o seu número, mas ninguém deu por nada, e tudo passou sem registo de nada de maior.

3 comentários:

Um brasileiro disse...

Oi. Tenho a dizer que estive por aqui. Tudo blz? Gostei. Muito interessante. Apareça por lá. Abraços.

chic Gucci shirts disse...

lala

Marina disse...

Estava a ler o que escreveste e só pensava no meu avô...que todos os dias vai ler o obituário com atenção, a ver se conhece alguém. E eu sei, que de cada vez que pega naquilo, pensa se não será ele o próximo a estar ali. Também ele passa o tempo a dizer que "está triste com a vida"...e eu que nunca sei o que lhe responder.