Eu quero fazer chapéus.
Quero remar contra a maré e encontrar-me contigo na Foz do Douro pela primeira vez em 1000 anos. Não vamos pensar em sexo desta vez, vamos só dar as mãos e ver o nascer do sol que está mesmo atrás de ti. Nunca o vês.
Quero correr na linha do eléctrico, beijar aquela luz de cidade entristecida.
A minha cidade. Porto.
Preciso dessas futilidades para aguentar. Ah os dias, os dias longos e frios, brancos como o fluorescente das lâmpadas do mercado. Varinas apregoam o meu nome, e eu corro até elas de braços abertos. Dá-me, dá-me lagartixas a correr, eu preciso, preciso das ruas inclinadas, do movimento do autocarro, da chuva a escorrer nos vidros, preciso daqueles cafés sem nome com cadeiras de madeira. Que se fodam as de plástico.
Coisas pequenas.
Pequenas. As cordas de um violoncelo. Aulas de música. Não cresço, criança, adolescente, rebelde. Devoro reticências pois não quero o nada por dizer. Quero o meu pai de volta para poder ser do contra. Contra o quê?
Contra mim, contra a parede e o vaso parte-se com as rumãs a rebolar. E rimos da loucura dos dias mortos de Verão que de nada ou pouco servem. Eu percebo, a luz influencia-me a escrever. Os dedos moles, demoram a pensar, dobram-se em cima das letras. Tesão, é preciso.
Quero gritar, sussurrar dentro de mim, dentro da sala escura, vamos fechar as janelas.
Paris. Silêncio. Paris acordou.
Paris, a pradaria do imaginário literário. Ah o romance que fede decomposto. E de que falo eu, Mon Amour?
O amor, pequeno Capuchinho Vermelho, devora-te. Devora a tua capa, e em pelo, tu pedes-me que te abrace, tens frio?
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