Happy New Year (New Life)

(Collodion process photograph made by: Filipe Alves with colaboration of Vera Alves)

Por isso vem

Querido Ano Novo

Estou a escrever-te esta carta porque tenho umas coisas para te pedir. Deves estar admirado, não deve ser todos os dias que recebes uma carta, achas que só o Pai Natal tem esse privilégio. Como vês, não podes estar mais enganado.

Querido Ano Novo, ouvi dizer que estás muito zangado e que vais dificultar a vida a toda a gente este ano. Não imagino porquê, será por causa do aquecimento global? Da reciclagem? Ao que parece estás mesmo, mesmo zangado e 2012 vai ser um ano terrível e difícil.
Não achas que já chega de anos terríveis e difíceis? Quer dizer, se reparares todos os anos  fazemos planos e listas de coisas que queremos mudar na nossa vida - e acredites ou não - estamos empenhados a fazê-lo. Queremos de facto melhorar a pessoa que somos e as coisas que fazemos, mas depois os meses passam que nem cavalos selvagens num lago, levantam toda aquela nuvem de água no ar e acabamos por nos perder desse desejo de melhorar, de mudar. 

O que eu quero dizer é que todos os anos nos distraímos com as coisas mais estranhas: a bolsa, a guerra, as bombas, o emprego, o dinheiro que nunca chega para aqueles sonhos pequeninos (aquele fim de semana no Porto que ando a planear à séculos, enfim)... todos os anos os teus primos fazem o mesmo, levam-nos num barquinho calminho, onde adormecemos sem mudar nada e subitamente temos mais um ano à porta e na nossa lista os mesmos desejos. 

Estás zangado, e possivelmente vais distrair toda a gente com problemas financeiros, e consequentemente problemas familiares, a tristeza, a agonia... e mais uma vez vais fazer o que todos os outros anos fizeram, vais afastar-nos dos nossos objectivos (aquela simples lista que nos poderia fazer uma pessoa melhor e feliz).

Desafio-te a ser um ano diferente. O ano da diferença na vida de todos. Se emagrecer está na lista, então força de vontade, trás força de vontade, a força de vontade é capaz de fazer muito, até serve para ultrapassar as intempéries que aí trazes. Se mudar de emprego está na lista, que haja outras oportunidades, negócios a florescer, ideias no ar que sobrevivam. Se "Ser Feliz" também está na lista, que haja dias de sol, passeios na praia, mais piqueniques com amigos! Que haja mais amor, que ajudemos quem mais precisa, que não guardemos mais tempo dentro de nós as coisas que temos para dar aos outros. 

Lembra-te que podes ser o último ano para muitas pessoas, não queres fazer a diferença?
Tu podes fazer a diferença na vida de todos. Desejo que este ano, TU, não sejas mais um ano como todos os outros, um barco que nos leva na corrente para lugares que não queremos ir.

Espero que penses nisto com todo o carinho.
Obrigada, Ano Novo
(Rute Magalhães, Portugal)

Lisboa à tarde


still in love

Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: <>
Deus sabe, porque o escreveu.

Aliaa Elmahdy, the Egyptian girl who striped it all - Those shoes are made for walking, girl (freedom)


"The photo is an expression of my being and I see the human body as the best artistic representation of that. I took the photo myself using a timer on my personal camera. The powerful colors black and red inspire me. I like being different. I love life, art, photography and expressing my thoughts through writing more than anything. That is why I studied media and hope to take it further to the TV world too so I can expose the truth behind the lies we endure everyday in this world. I don't believe that we must have children only through marriage. It's all about love." (Aliaa)

Miss Monroe, you're all about gorgeousness!


Matando memórias com tinta azul

O carro era preto e muito antigo. O pai sempre tinha tido aquele gosto por carros velhos. Talvez gostasse das coisas assim, naquele estado, maltratadas durante muitos anos e fechadas numa garagem sombria, daquelas que deixam apenas espreitar alguns raios de sol para nos dar a sensação de "qualquer coisa guardada".
A viagem era cheia de sons, eu queria imaginar que não eram do carro a desfazer-se, mas sim sons da paisagem que nos rodeava, como se todas as coisas tivessem uma música própria. O rádio, raramente apanhava o que quer que fosse, mas acho que não queríamos apanhar nada, aquele ruido de fundo era óptimo. O ponteiro das velocidades não funcionava, para variar, era sempre assim, em qualquer viagem uma avaria surpresa. O pai tinha-o desligado porque era barulhento e incomodava com aquelas velocidades descontroladas! Rimos daquilo.
Agora não tínhamos limite. O limite éramos nós.
Eu ia no banco de trás com o cinto mal colocado, demasiado grande para mim, ou eu demasiado pequena para ele. À minha frente, ele deixava a sua mão mergulhar no vento que gelava os braços, e tentava apanha-lo, agarra-lo naqueles momentos em que parece uma bola que enche a mão.
O vento. Lembro-me de fazer aquilo muitas vezes, mas naquele dia não estava com vontade, estava muito frio, devia ser Dezembro. As viagens de carro que fazia com o pai eram os momentos em que me sentia mais próxima dele, ainda que não disséssemos nada. E eu tinha as minhas teorias sobre tudo quando era pequena. Teorizava sobre o tamanho dos meus olhos, num daqueles momentos que todos temos por vezes, e que guardamos por acharmos engraçado, concluí, olhando o verde do rio Douro, que tenho olhos grandes por ser calada. Tenho olhos grandes porque falo com os olhos. Foi assim qualquer coisa do género. Então chegamos, sem me dar conta, ao lugar onde as montanhas têm nome. Achei aquilo delicioso. Apetecia-me trincar cada montanha, reter na boca o seu sabor a verde, a vida. A minha preferida chama-se Sandman. Não é muito grande. É até bastante discreta, podia jurar que a tive na mão, não era muito pesada. Pudesse eu falar destas coisas ao meu pai quando fazíamos essas viagens os dois e poderia contar-lhe o que eu achava sobre o maravilhoso patchwork que nos envolvia. Cores. Texturas. Formas.
Os caminhos que serpenteavam, de castanho e bege, o verde das montanhas como que a dizer que podemos chegar a elas. Como se fossem de facto necessários para as subirmos.
Não sei de quem foi a ideia de parar, mas naquele dia, em que não tínhamos velocímetro o pai decidiu parar na estrada que liga a Régua a S. João da Pesqueira, estávamos em pleno Dezembro e a paisagem era divinal. Sentá-mo-nos nas fragas mesmo de frente para o rio. Na outra margem, vimos a linha desafiadora que aguardava apaixonadamente a passagem do comboio. Na realidade às vezes penso, que bons momentos passámos em silêncio eu e tu, hein pai?

I'm just a poor fool that's bluer than blue can be

"You ain't never been blue, no, no, no
You ain't never been blue
Till you've had that mood indigo
That feeling goes stealing down to my shoes
While I just sit here and sigh
Go along blues

I always get that mood indigo
Since my baby said goodbye
And in the evening when the lights are low
I'm so lonely I could cry
For there's nobody who cares about me
I'm just a poor fool that's bluer than blue can be
When I get that mood indigo
I could lay me down and die"



E enquanto a noite avança deixo-me cair, ao abandono, no ceio de uma matilha esfomeada de perguntas.

in love with Matisse




Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...

                        Alberto Caeiro

Pause. Think . React

Primeira Pessoa . Misunderstood

Quando foi que começou a confusão de não saber perceber distinguir o bem do mal, o certo do errado?

Viagens na minha terra (Dezembro de 2011)

Chegar a Trás-os-Montes é como entrar no regaço de uma mulher gigante feita de pedra, uma mãe afável mas distante e atarefada com a faina agrícola, sempre preocupada com as geadas, com as chuvas, com o calor do Verão. Não se sente alegria ao atravessar as montanhas, sente-se sim uma enorme nostalgia, como se à muito tempo atrás, num passado distante, uma parte de nós fosse também feita daquela terra, daquele granito rugoso que nos arranca a pele e nos deixa despidos de nós mesmos, como uma uva no lagar.
Trás-os-Montes tem aquela beleza violenta que nos faz sentir pequeninos e atarefados, há muitas coisas para fazer, não se pode parar, a mãe terra assim nos ensinou. Há nas pessoas um carinho quente de sopa, que não existe em mais lugar nenhum, os gestos simples valem por mil palavras, e ainda que desconfiados, recebem sempre bem os de fora, com esperança de boas novas, ainda que vivam já numa época em que as novas cheguem de outras formas. Quando nos despedimos, à hora da partida, não podemos deixar de notar que aquela gente tem um quente especial nos olhos, que ainda que nunca vaze para fora, é a coisa mais linda que alguma vez se verá na vida.

obsession pointed to the moon (Bjork)

Best way to start-a-new
Is to fail miserably
Fail at loving
And fail at giving
Fail at creating a flow
Then realign the whole
And kick into the start hole