Chegar a Trás-os-Montes é como entrar no regaço de uma mulher gigante feita de pedra, uma mãe afável mas distante e atarefada com a faina agrícola, sempre preocupada com as geadas, com as chuvas, com o calor do Verão. Não se sente alegria ao atravessar as montanhas, sente-se sim uma enorme nostalgia, como se à muito tempo atrás, num passado distante, uma parte de nós fosse também feita daquela terra, daquele granito rugoso que nos arranca a pele e nos deixa despidos de nós mesmos, como uma uva no lagar.
Trás-os-Montes tem aquela beleza violenta que nos faz sentir pequeninos e atarefados, há muitas coisas para fazer, não se pode parar, a mãe terra assim nos ensinou. Há nas pessoas um carinho quente de sopa, que não existe em mais lugar nenhum, os gestos simples valem por mil palavras, e ainda que desconfiados, recebem sempre bem os de fora, com esperança de boas novas, ainda que vivam já numa época em que as novas cheguem de outras formas. Quando nos despedimos, à hora da partida, não podemos deixar de notar que aquela gente tem um quente especial nos olhos, que ainda que nunca vaze para fora, é a coisa mais linda que alguma vez se verá na vida.
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