Ai... apetecia-me escrever qualquer coisa, ou isso ou dar esmola à igreja.
A rapariga pensava no futuro de joelhos, agarrada ao terço fervorosamente. Ainda que receasse pecar, mais ainda, com aquelas indagações a Deus, não podia deixar de se questionar sobre o que a esperava, qual iria ser o futuro daquelas carnes agora manchadas pelo pecado. Fechou os olhos com mais força para conter as lágrimas, que a seu ver, eram demasiado puras para serem derramadas num corpo tão sujo. Tentou demover-se de relembrar as promessas, o quarto da pensão, o cheiro do homem, as mãos rugosas. Como pudera ter sido tão sonsa, como pudera ter-se deixado levar por sentimentos tão baixos. Bem a avisara a mãe, os homens, como os cães vadios, não eram de fiar. Pobre mãe, se soubesse daquilo, a pobre e velha mulher, inocente e sozinha na aldeia, cheia de ilusões. Como fora aquilo acontecer-lhe, três vezes, ainda por cima. Porque não se ficara pelos beijos frios da Amélia camareira, que lhe ensinava as coisas que aprendia com os capitães, ao menos jamais seria submetida ao julgamento social. A mãe não poderia saber nunca... Estava perdida, pensava. E se alguém soubesse a verdade, bem que se podia matar, pois mais valia a morte que viver a vida com fama de puta.
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