Intro
Havia palavras que não gostava. Palavras como parir. Prenha. Porca. Tinha uma sensação de desconforto físico, como se ao ouvi-las elas me cortassem a pele. Eram palavras muito corriqueiras na boca das pessoas na aldeia, pessoas habituadas a tudo, com a pele mais dura e calosa. Imunes à cor do sangue e aos gritos de dor dos bichos em agonia.
Havia palavras que não gostava, que hoje se mostram de outras formas. Terão sido os meus ouvidos a mudar ou as bocas que as pronunciavam que agora as dizem de outra forma? Já não as sinto como lâminas, apenas como brisa que sai das bocas de quem as diz. Fui eu, eu sei. Já sei o que elas significam e não é o que eu achava que significavam. E fico-me a admirar esse espetáculo que é o tempo e o que ele nos faz, por dentro e por fora.
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