Quem não se sentiu já, como um daqueles leves e fúteis sacos de plástico que voam soltos ao vento? Quem não se deixou voar, de olhos fechados, dentro de um qualquer veículo que circule a velocidades proibitivas? Quem não se emocionou por motivos inexplicáveis e, que por esses mesmos motivos, se sentiu terrivelmente vivo?
Ao ouvi-lo tocar do alto da montanha, algo se quebrou. Procurei-o pelas íngremes ruas até que o avistei ao longe, numa escadaria, a tocar ao vento, a tocar para a montanha. Subi os degraus e fiquei a escutar as suas notas musicais com terrível comoção. Era como se aquelas notas fossem a chave para a libertação de tantas emoções guardadas, em malas e gavetas esquecidas, gavetas que nunca soube existirem. Ao vê-lo, de tão longe, um homem velho, cego, segurando nas mãos trémulas uma concertina que parecia suportar a sua velhice, senti com todo o meu corpo que naquele homem se concentrava a paixão pelo belo.
Senti que, adormecidas pelo tempo, as minhas emoções se haviam fossilizado, era preciso sentir e libertar tudo, só mais uma vez. E dentro de mim procurei em todos os jardins e todas as cidades aqueles que me acompanhavam em passeios sem fim pelos telhados imaginados, aqueles que nas folhas secas desenhavam estrelas, procurei, passando todas as pontes e espreitando para dentro de todos os rios os que me faziam correr, correr nas mãos e correr na mente as listas de palavras que se criam na imaginação.
Corri, corri todos os vales que havíamos inventado, espreitei dentro de todos esses copos agora vazios e não os podia encontrar em lugar nenhum. Onde poderiam estar depois de todo este tempo?
Foi naquele banco de jardim que os fui encontrar, aquele vermelho junto ao grande carvalho. Adormecidos, com os seus sapatos pousados em fila.
Queria tanto acorda-los, acorda-los e dar-lhes a mão para voltarmos a trepar telhados e luas. Mas estavam longe, e nem era dentro de mim, era nalgum lugar ainda mais distante.
Eu também sei muitas mais histórias, mas nem todas me lembram agora. Seria preciso um mapa maior que o mundo para os encontrar de novo. Se eles ainda dormem? Julgo que nem eles sabem. Mas sinto-lhes a falta, como as amoras sentem dos dedos macios.
I dont wanna say goodbey.
Can I prove my love to you?
Maybe this is the end, I hope is not the end.
[agosto de 2007
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