É o ultimo dia?
Acordei com esta estranha sensação de fim... como se a ultima página do que escrevemos estivesse prestes a ser lida, e a qualquer instante, o mistério se desvendasse e saísse com vida pelas ruas da cidade de outrora.
Com saudades e vontade de refazer o saco de viagem.
Hoje, as coisas sem nome fazem todo o sentido. O sentido que faz a rota de um planeta que gira incessantemente à volta do sol... não me questiono, querido companheiro. Creio que acordei sem vontade de colocar questões. Hoje, a vontade, é a de ficar sentada no meio do nevoeiro a contemplar todo o céu que não vejo. Tu sabes... aquele que guia na escuridão de sermos nós.
Não sei em que parte da viagem te encontras... talvez tenhas morrido numa qualquer praia, com sede, aquela sede de te deixares ir pela noite e morreres de frio... Penso que estás apenas maravilhado com o mundo.
Eu ando a organizar os pedaços de alma, que sou eu, em contínuas tentativas de me encontrar numa qualquer equação!
Lutando. É isso que tenho feito com as vontades do vento. Luto com elas. E a lucidez sobrenatural das imagens gela-me por dentro com arrepios intermináveis que me eriçam os pelos. Tanta magia! Talvez deva planar para lá daquilo que me fascina aqui. O mundo é grande de mais para esperar mais tempo. E sabes, todas estas viagens me fizeram sentir menos promiscua. Acredito ter-me reconciliado comigo mesma, naquela certeza infantil, de por momentos, me julgar aceite. Nos pequenos laivos de consciência que consigo guardar de mim vejo-me de novo a voar... e apesar de me sentir Ícaro, demasiado perto do sol, a vontade e a ousadia crescem-me nas veias como os fungos no pão bolorento.
Não, não me sinto animada... sinto-me apenas eu de novo.
Encontrei-as finalmente. As almas perdidas que como eu se encontravam naquelas noites intermináveis, no café do monte, aquele que amamos, onde apesar de não haver lareira acesa nas noites de Inverno, nos sentíamos terrivelmente em casa. Confortáveis no silêncio das conversas que queríamos desesperadamente ter sem pensarmos nas diferenças que nos uniam de forma hercúlea, ali.
Encontrei-as de olhos fechados dormindo e sonhando. A vontade de as contemplar sem me preocupar com o tempo invadiu-me a alma. Mas as malas estavam prontas e era hora de partir, mais uma vez, rumo ao infinito, sem limite...
E anseio que um estranho, perdido nas ruas, um dia ouse perguntar:
What is you're story?
[título original "Magna Viagem", agosto de 2005]
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