O que me faz ser o que sou?
A pintura? Caracois? Camomila? Dizer «Plum Plum»? Botões e linhas? Aprender coisas que nao sabia? Andar na rua sem saber para onde ir? Fazer desenhos com a colher do café? Campos de flores? Campos com camomilas e oliveiras? Charcos de água no Inverno? Gelados na praia? Pés descalços na praia? Nao saber dançar e dançar na mesma? Pôr a mão de fora da janela do carro e voar? Andar de comboio? Adormecer? Andar de bicicleta? Acordar? Rir e rir? Gostar de pessoas que riem? Folhas soltas? Passeios no parque e garrafas de vinho branco? Abrir e fechar os olhos como se fossem uma janela para a rua? Vagabundos? "Vádias"? O amor? Pijamas? Janelas abertas? A lua? Conversas sem sentido? Casas cor-de-rosa como as que eu desenhava quando era pequenina? Casas cor-de-rosa rosa com velhinhas muito velhinhas curvados pelo tempo a tentarem abrir a porta? Estrelas? Livros? Discos antigos e cadeiras usadas? De estar à flor-da-pele? Serei eu quem sou por gostar de gavetas que se perderam na rua e não sabem voltar para casa? Gostar de ver filmes à noite e à tarde? De telhados? Gatos pretos? Perúcas? Gatos no geral? De escadas escadotes e escadinhas? Dos homens do lixo? De esquecer-me dos acentos quando escrevo? Pincéis? Guarda-chuvas? Po preferir cafés com janelas para a rua? Chapéus? Viagens de comboio? Fotografias? Por gostar de tirar fotografias a mim mesma em qualquer lugar e em qualquer circunstância? Baloiços e palhaços de circo? Pianistas e flautistas de rua? Das copas das àrvores? De Meninos Gordos? Fazer chuva e entrelacar os dedos? Cerejas? Morangos e ananás? Risos? Saltos. Corridas. Pontes antigas. Torres. Pontes vermelhas. Brincos grandes. Framboesa. Molhar as Das pontas dos dedos em água fria? Por cantar mal? Por querer cruzar-me com estranhos? Querer 1000 coisas e não querer 1000 coisas? Por rir quando ponho óculos grandes? Escrever bilhetes e pôr cartas no correio? Receber cartas? Inventar postais? Relógios de corda? Sapatos? Maçãs verdes e passeios na praia. Grilos. Polaroids. Restaurantes chineses e pessoas do Peru. Passeios de autocarro? Filas nas bilheteiras? Lugares com relva? Do verde? Do vermelho? Dos cobertores azuis devido a uma memória que ficou esquecida no tempo? Dos livros? Das paixões fugazes pelo amarelo? Janelas abertas? Janelas molhadas com água da chuva? Janelas sem casa? Abraços inesperados e cartas de amor? Poemas? Pégadas na neve? Músicas oferecidas? Gelados? Margaridas. Carros velhos e estradas secundarias! Árvores altas e passeios em terra batida. Faróis. Fazer caretas ao espelho? Andar descalça e meter os sapatos na carteira? Soprar dentes de leão? Saltitar? Matar saudades? Comer arroz duas vezes por dia? Subir e descer ruas? Café? Por me distrair? Café? Observar pessoas? Por gostar de velhotes de mãos dadas? Velhotes que falam comigo? Velhotes que não fazem nada e que estão na rua? Velhotes que se sentam nos jardins? Café? Da palavra "tonto" dita 30 vezes por dia? De canetas azuis? Por gostar mesmo de café? De lugares comuns? Do brinde com bananas do Filipe? Fitas coloridas? De barcos de papel e de joaninhas? Lareiras acesas? Meias de lã? Meias no geral? Feijões azuis? Sinos? A palavra "repolho"? Silêncios e sorrisos? Velhotes que se aventuram? Relógios de corda que fazem tic tac até enlouquecermos? Andar de bicicleta de olhos fechados? Emprestar livros? Que me emprestem livros? Livros velhos? Livros usados? Escrever sem motivo aparente? Pensar no amor? Fazer o amor? Por fugir de abelhas? Por gostar de fumadores pensativos? Cigarros que se consomem no cinzeiro? Dias de Setembro? Casacos gigantes que tapam as mãos? Tocar ao de leve em borboletas distraídas? Gritar? Saltar em cima da cama? Fechar os olhos e sentir o vento? Dias de chuva? Pessoas encolhidas pelo frio? A palavra "gordo" em contextos estranhos? Maos escondidas nos bolsos? Maos que enchem bolsos? Dizer bom dia a estranhos? Correr para apanhar o autocarro.
Serei eu isto? Eu sou isto?
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