Hoje é dia de birra. É dia de atirar com as coisas ao chão, dia para escrever textos em francês, é dia de riscar folhas de jornal e de comer lixo, dia para dar erros ortográficos e dizer:
"não quero, não quero, não quero"
"corrige os erros Maria"
"não, não e não"
É dia de faltar à escola. Fugir de casa. Comprar gomas e ir comê-las na praia. É dia de rasgar jornais e esconder os comandos da televisão. Hoje é dia para rasgar todas as minhas roupas e a seguir chorar - afinal eu sou uma rapariguinha que perde 5min por dia a mirar-se ao espelho. Sinto-me perdida numa feira popular gigante. Uma menina birrenta com lágrimas de crocodilo a lamber um pau quase vazio de algodão doce. Ao olhar para o céu, as nuvens garantem-me mais uma vez que hoje é mesmo dia de birra. Tudo tem um significado, mas eu não percebo qual é o deste dia cinzento. Queria muito ter sol, mas este que aqui têm é a fingir. Queria muito não ter de aprender a tabuada e de poder passar os dias a fazer desenhos com giz num quadro negro. Desenhava todas as minhas birras lá e depois apagava-as. Desenhava todas as nuvens cinzentas e a seguir apagava-as. Dás-me um apagador mágico? Se preferires pega-me ao colo. Está mesmo na hora de ir dormir. O meu coração está tão cheio com estas tralhas que sempre que bate todas as bicicletas do mundo começam a fazer um barulho esquisito.
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