"recomeço a bordar ou a dormir | tanto faz | sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade" (Al Berto)


Verdade verdadinha vermillon

Dia 5 de Janeiro, já andavas tu no leito alheio, escrevi corajosamente aquilo que não voltei a escrever todos os meses que se seguiram: faltas-me. E é verdade. Esta secura que me invadiu é por tua causa, devo assumir sem receios. Fechaste todas as nascentes que me incendiavam e inflamavam a escrever. E escrevia, mesmo que o fizesse de maneira pobre e infantil, mesmo que o fizesse por te odiar e amar dessa forma retorcida que só nós sabemos.

Sobrou este silêncio como cinza de um incêndio. Na realidade, ditas bem as coisas, não sobrou nada... ficaste com tudo.
Arrasto-me de livro em livro a tentar encontrar nas palavras dos outros aquilo que quero dizer e sentir mas que não consigo.
Há a urgência de me reinventar, mas procuro-te em todos os poros da pele mesmo depois de ela cair. És como uma doença crónica que eu não quero tratar.

Eu quero. (mas não quero perder-te)

...

Onde é que tu estás? perguntam os meus dedos ao escrever estas palavras. Eu respondo "Já não existo.". Hesitando, fico longos minutos com as mãos pousadas à espera de uma reação. Tudo é branco.

Y tu sinceridad me mata!


as andanças de envelhecer

"peço-te, dá-me Tempo para que as palavras se transformem e tomem sentido, se organizem de modo a serem fala simples e imediata e dá-me tempo para reconhecer o meu corpo esquecido algures na treva duma memória que eu tento esvaziar. dá-me Tempo para perceber de novo a falsidade dos espelhos, e de novo construir a minha sombra, o meu reflexo, a minha solidão. dá-me Tempo, Tempo infinito para que a voz cresça e se transforme em canto. Tempo, quero Tempo, para redescobrir a dor." (Al Berto, Diários)