I'm sick of my own romanticism . To hell with love

eu digo que não, mas penso que sim;
tu dizes que sim, mas pensas que não.

eu digo que não, mas penso que sim;
tu dizes que sim e pensas que sim.

eu digo que não, mas penso que sim;
tu dizes que não, mas pensas que sim,

em mim.



(aqui: a noz tatu)

Sopa de letras: my broken heart . sometimes . i have nothing . to someone? i don't know...

O amor talvez exija alguém que possua a coragem de seguir amando sem o medo de não ser amado, alguém que não tema caminhar no desconhecido. Como no verso de Drummond, alguém que saiba amar depois de perder. Alguém que suporte a angústia de não se deixar enquadrar em nenhum lugar imaginário e que, assim, permita a quem está ao seu lado a possibilidade viver a experiência rara de amar. 


(A pessoa certa, por Márlio Vilela Nunes em don't touch my moleskine)

the mirror game. sad girl playing rimes . i want u . i want u so bad . uemor

"Um dia desses vou roubar-te. Vou aparecer como no antigamente com os meus grandes sorrisos e os meus copos coloridos cheios de bebidas tropicais e vou levar-te comigo por esse mundo fora. Um dia, quando menos esperares, estás nos meus braços, e o que te vai deixar mais surpreendido é que vais gostar."

Obra Poética

Não saberia o que escrever se houvesse folhas para escrever. É como se tivesse apagado de mim todas as palavras e eu fosse agora um livro sem história, sem alma. Sou um papel em branco, vazio, sem nada para fazer, pousado numa escrivaninha. Quieto, estático e triste. Escrevam qualquer coisa, cortem qualquer coisa, rasguem alguma coisa. Matem esse papel.

amanhecer . a minha vida recomeça de novo

Começo a duvidar da vontade de escrever. A vontade de ser palavra. A vontade de ser mais do que aquilo que posso na realidade. Já não acredito. Suspeito. Desconfio como desconfia o lojista do cliente. Serei de confiança? O que é esse ar de suspeita? Desconfio como desconfia o cigano do polícia. Sou como os gatos. Quero querer qualquer coisa que ainda não sei o que é ou vai ser. Vou querendo este querer mentiroso que me faz sentir mais segura por sentir que quero querer. E agora? E agora o que fazer no espaço vazio que existe entre querer e o querer o que vou querer?! O que há? Branco. Branco como folha que quero escrever mas que nunca escrevo pois nasci com mãos preguiçosas e com uma cabeça cheia de janelas que me fazem perder na luz branca. A luz - um hospital para ceguinhos, serve para abrir portas. Fechem as janelas que eu não quero ver o sol.

Eu tinha uma janela cheia de estrelas e um livro que me contava histórias de uma menina com olhos de gigante

Sim, sim, quero parar com essas coisas. Quero estar calada. O que é que estás a fazer? Deixem-me estar calada a lembrar-me das amendoeiras. O cheiro do batatal de madrugada, o barulho das mulheres do campo a bater os baldes enquanto esperam por mais um amanhecer. Calem-se também os grilos que cantam. A mãe quer chá? Eu queria amigos, mas paciência, as crianças não podem ter tudo. Não faz mal, eu faço o chá e invento as crianças nos livros e nas coisas. Eu falava sozinha "O que é que estás a dizer?", nos livros, nas coisas. Eu falava sozinha e imaginava um mundo diferente em que me obrigavam a comer a sopa e a tomar banho. Pensando bem sou uma cigana. Sempre de cá para lá, um deambular solitário de quem só quer comer pão com manteiga. Ao menos que eu tivesse tido um burro.

sometimes i just want to be quiet and listen . guitar strings

It's the first day of spring
And my life is starting over again
The trees grow, the river flows
And its water will wash away my sins
For I do believe that everyone has one chance
To fuck up their lives
But like a cut down tree, I will rise again
And I'll be bigger and stronger than ever before



There's a hope in every new seed
And every flower that grows upon the earth
And though I love you, and you know that
Well I no longer know what that's worth
But I'll come back to you in a year or so
And I'll rebuild, be ready to become
Oh the person, you believed in
Oh the person, that you used to love

For I'm still here hoping that one day you may come back

a necessidade faz o guerreiro

apontamentos . acordar

Sinto a cabeça nadar à roda e as emoções não sei onde param. Não quero arrumar nada, não consigo. Não há no espaço, espaço que chegue para arrumar a idiotice, ela não cabe em lado nenhum. Porquê um "eu" tão barulhento? Fecho os olhos, mas quem poderá tapar-me os ouvidos? O barulho da rua não pára; as veias não se calam; as vozes que chegam de todos os lados desta casa deserta de mim não cessam. Onde encontrar o fim para sempre? Ou só por agora, porque não sei o que quero para sempre. Talvez sol, mas isso podia fazer mal às plantas. Deixem-me aprender a escrever outra vez, "Senhora professora, eu preciso aprender a escrever novamente para escrever coisas bonitas, as minhas mãos só escrevem merda." Se eu fumasse, morria de desejo por um cigarro agora. Como não fumo, a janela da rua serve.

Eu sou feita de

Amor. Pintura. Caracóis. Camomila. De dizer «Plum Plum». Botões e linhas. Aprender coisas que não sabia. Andar na rua sem saber para onde ir. Fazer desenhos com a colher do café. Campos de flores. Campos com camomilas e oliveiras. Charcos de água no Inverno. Gelados na praia. Pés descalços. Não saber dançar e dançar na mesma. Pôr a mão de fora da janela do carro e voar. Andar de comboio. Adormecer. Andar de bicicleta. Acordar. Rir e rir. Paixão. Espontaneidade. Loucura. Gostar de pessoas que riem. Folhas soltas. Passeios no parque e garrafas de vinho branco. Abrir e fechar os olhos como se fossem uma janela para a rua. Vagabundos. "Vadias". Pijama. Janelas abertas. De lua. Conversas sem sentido. Poemas. Casas cor-de-rosa como as que eu desenhava quando era pequenina. Casas cor-de-rosa rosa com velhinhas muito velhinhas curvados pelo tempo a tentarem abrir a porta. Estrelas. Livros. Muitos livros. Discos antigos e cadeiras usadas. De estar à flor-da-pele. Sou feita de gavetas que se perderam na rua e não sabem voltar para casa. De ver filmes à noite e à tarde. De telhados. Gatos pretos. Pardos. Perucas. Gatos no geral. De escadas escadotes e escadinhas. Dos homens do lixo. De esquecer-me dos acentos quando escrevo. Pincéis. Guarda-chuvas. De preferir cafés com janelas para a rua. Chapéus. Viagens de comboio. Fotografia. De gostar de tirar fotografias a mim mesma em qualquer lugar e em qualquer circunstância. Baloiços e palhaços de circo. Pianistas e flautistas de rua. De copas das árvores. De Meninos Gordos. Fazer chuva e entrelaçar os dedos. Cerejas. Morangos e ananás. Risos. Saltos. Corridas. Pontes antigas. Torres. Pontes vermelhas. Brincos grandes. Framboesa. Molhar as pontas dos dedos em água fria. De cantar mal e cantar na mesma. De gostar de me querer cruzar com estranhos e inventar histórias sobre eles. Querer 1000 coisas e não querer 1000 coisas. Escrever bilhetes e pôr cartas no correio. Bilhetes nos bolsos. Receber cartas. Inventar postais. Relógios de corda. Sapatos. Maçãs verdes e passeios na praia. Grilos. Polaróides. Restaurantes chineses e pessoas do Peru. Passeios de autocarro. Filas nas bilheteiras. Lugares com relva. Do verde. Do azul. Dos cobertores azuis devido a uma memória que ficou esquecida no tempo. Das paixões fugazes pelo amarelo. Janelas molhadas com água da chuva. Janelas sem casa. Abraços inesperados e cartas de amor. Beijos roubados. Pegadas na neve. Músicas oferecidas. Gelados. Margarida. Carros velhos e estradas secundarias! Árvores altas e passeios em terra batida. Faróis. Fazer caretas ao espelho. Andar descalça e meter os sapatos na carteira. Soprar dentes de leão. Saltitar. Matar saudades. De amigos com quem nunca estou. Comer arroz duas vezes por dia. Subir e descer ruas. Café. De distrair. Café. Observar pessoas. De velhotes de mãos dadas. Velhotes que falam comigo. Velhotes que não fazem nada e que estão na rua. Velhotes que se sentam nos jardins e conversam sobre a sua vida. Café. De canetas azuis. De muito café. De lugares comuns. Fitas coloridas. De barcos de papel e de joaninhas. Meias de lã. Meias no geral. Silêncios e sorrisos. Andar de bicicleta de olhos fechados. Emprestar livros. De me emprestarem livros. Livros velhos. Livros usados. Escrever sem motivo aparente. Pensar no amor. Fazer o amor. Cigarros que se consomem no cinzeiro. Dias de Setembro. Casacos gigantes que tapam as mãos. Tocar ao de leve em borboletas distraídas. Gritar. Saltar em cima da cama. Fechar os olhos e sentir o vento. Dias de chuva. Mãos escondidas nos bolsos. Mãos que enchem bolsos. Eu sou feita de tanta coisa, e hoje é Setembro e sou feita de Lisboa!

the lost mixed tape by J.E. (founded today!)

Estoril, 2008

Dos sons mais belos do mundo fazem parte as teclas das máquinas de escrever. O bater de cada letra, calmo e decidido, encerra dentro de si o mistério do escritor. Cada sentimento é disfarçado dentro de uma palavra que se constrói secretamente. O escritor não passa de um mendigo sem palavra, mudo e fechado num mundo de ruído.
A miséria de um escritor é querer falar do que sente e esconder-se na manga quente de um disfarce, escrevendo.

(notas de Rute, envelope perdido)

Álvaro de Campos

Sou uma sensação sem pessoa correspondente.

reality is tracking me down . it's future dust



quimera |é|
(grego Khímaira, -as, Quimera, ser mitológico, de khímaira, -as, cabra jovem)

s. f.
1. [Mitologia]  Ser mitológico geralmente representado com um corpo híbrido entre leão, cabra e serpente ou dragão.

2. Coisa resultante da imaginação. = FABULAÇÃO, FANTASIA, ILUSÃO ≠ REALIDADE
3. Esperança irrealizável. = UTOPIA

Pierrot le Fou (Carlos, you always have nice things to show)


beach house - "real love" from Johnny Tucci on Vimeo.

Là-bas, je ne sais oú...

Ficar só a pensar em partir,
Ficar e ter razão,
Ficar e morrer menos...

Vou para o futuro como para um exame difícil.
Se o comboio nunca chegasse e Deus tivesse pena de mim?

(...)

Partir!
Nunca voltarei,
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro,
A gare a que se volta é sempre outra.
Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia.
Partir! Meus Deus, partir! Tenho medo de partir!...

Álvaro de Campos

Estou Além (Porque eu só estou bem onde eu não estou, porque eu só quero ir onde eu não vou) - Odemira e tantos - 2011



Playing with my PENTAX RS 1000

all mighty Google images

I belive in the future

as coisas que deixaste para trás . retrospectiva . it's friday

Carta esquecida dentro de um livro de Anton Tchecov (2001)

O fim das coisas é triste. É a sensação de termos vivido em vão, é a necessidade de esquecer, apagar o que foi aprendido pelas emoções, é a vontade de seguir em frente - vivo.
Queremos fingir que nada existiu e que errámos, as nossas escolhas foram más, escolhemos mal, a culpa é nossa... culpa - mea culpa.
No entanto essa foi a escolha acertada a dada altura da nossa vida, foi o amor e a felicidade durante algum tempo, portanto, errar é relativo e sobrevalorizado.
Há pessoas, lugares e momentos que não deveriam ser apagados ou esquecidos. As pessoas não são erros. O fim das coisas é triste. O fim do amor. O fim de qualquer coisa. O fim de uma vida.
O fim é por si só o esquecimento por excelência. Uma morte sem haver morte. É um sopro. Um conto de alguém que já não somos.
O fim é uma coisa triste, como a caneta que acaba. A caneta que usámos para criar pontes com o mundo.
Eu queria recordar todos os antes dos meus fins. Quando o verde era fresco e o azul brilhante, os sorrisos cheios de vida, quando os bons momentos eram realmente bons.
Quem sabe escrever sobre as coisas realmente importantes?
Não receio a solidão, ela acontece quando nos abandonamos a nós mesmos, quando desistimos do que somos, quando já não acreditamos no valor dos pequenos gestos, quando não vemos as coisas mais pequenas - tu vês-me, eu vejo-te.
Acredito que quando for grande irei escrever sobre essas coisas importantes. Alguém tem que falar sobre elas ou irão ficar esquecidas para sempre como as músicas populares. Alguém tem de registar todas as coisas antes de elas chegarem ao fim.
Esperavas-me às cinco todos os dias... desculpa ter-te deixado. Queria ter uma recordação daqueles momentos juntas. Os chás. As tardes de sol. Nem uma fotografia. Nada. Uma morte sem haver morte é o que nos separa.
Isso e as coisas que deixaste para trás.

Woody, you are genius!

Listen Me (click)

arrumar o quarto para acordar feliz

Esta rapariga não tem medo da nudez. Quem diria que as coisas mudassem de forma tão drástica. Quem sabe ainda acaba a noite com os seios de fora.
Esta rapariga já não é um medo.
Há uma praia na minha memória da qual tenho saudades, esta rapariga visitava-a para ir encontrar-se com amigos secretos. Nessa praia havia mensagens antigas, corpos antigos, desejos quebrados e sonhos velhos, nela tudo era possível, todas as conversas conversáveis, todos os sexos viáveis. Não havia homem ou mulher, éramos uma só areia, uma só água que se misturava e criava castelos, sei que essa praia existe algures, cheia desses pescadores que nos embalam na sua corda e nos levam nos seus baldes de encanto para nos cozinharem depois nas suas mãos de amor - ela existe. O caminho até ela foi esquecido na teia de caminhos confusos que a vida vai tecendo. A vida, como as histórias, é orgânica está sempre a mudar, a cair, a criar... Nessa praia há rapazes de outros tempos a correr descalços, rapazes que vêem o pôr do sol e apanham conchas pela primeira vez, há raparigas que namoram sereias e sereias que nascem das estrelas. Nessa praia há uma rapariga que ainda está viva e que tem sonhos, sonhos a nascer e outros à espera de morrer. O que esta rapariga diz não está longe da verdade, quem sabe esta noite vá ver a lua nascer com os pés enterrados na areia de outras praias e atire ao mar essas mensagens antigas que guarda no bolso. Ela existe.

=)

Conta-me uma história

  Conta-me-uma-historia by Rute Magalhães

a minha vida é um quarto de hotel




Voar até o mundo acabar e não haver pessoas.
Voar até não haver mais asas para bater e então parar.
Pensava nisto antes de adormecer uma dessas noites. Pensava nisto e também em mudar de nome, mudar de casca, mudar tudo e ser outra pessoa, ter outra vida, uma vida perfeita. Mas foi também num desses passeios sem rumo que percebi que as vidas perfeitas não existem, assim sendo resta-nos recontá-las no papel, viver entre linhas a perfeição que não existe. Uma espécie de "copy paste" da realidade adaptada à fantasia imaginada de cada qual. Para vivermos todas essas vidas que gostaríamos teríamos de as registar no papel, fazer novelas e contos de fadas. Escrever é a libertação máxima, ainda que os haja, os censuradores, esses que nos querem entrar na cabeça e nas mãos e nas canetas e controlar o que escrevemos e pensamos. E ficamos com medo que destruam as nossas vidas, o nosso mundo de encantar. Ficamos com medo que até assim as nossas vidas perfeitas não sejam perfeitas.
Eu quero essas vidas todas que há dentro de mim! Quero a florista, a escultora e a cantora que existem dentro da minha cabeça. Quero a peixeira, a tarada sexual, a divorciada, a vendedora de carne! Quero todas elas sem censura, sem influenciar as suas escolhas e os sonhos que cada uma delas tem. 
Voar até não haver mais asas para bater e então, não parar.

Bicabornato de Soda . Trapos


"E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!

- Hoje quero só sossego. -

Deem-me de beber, que não tenho sede!"

(Álvaro de Campos)

Sentamo-nos em silêncio, olhas para mim directamente nos olhos - tu conheces-me. O que é que querias? (silêncio) Só queria dizer... Não mudes, babe - eu só queria... obrigada, mas não me parece que nos voltemos a encontrar (tens de ir, antes que o sol nasça).

regresso

é


(latim progressus, -us)

s. m.s. m.

1. Acto.Ato.Ato de regressar. = RETORNO

2. Volta. ≠ IDA

3. Recurso contra alguém.







regressar - Conjugar

v. intr.v. intr.

1. Voltar, tornar ao ponto de partida.

v. tr.v. tr.

2. Fazer voltar.

areia no cabelo . relato de um náufrago . Setembro

Não quero fazer nada. Não quero viver nem um bocadinho. Vou ficar sentada no sofá a olhar para a parede branca até o mundo acabar. Não quero ver nada nem sentir nada. Sentir é um vírus que nos fragiliza e eu quero ser forte. Eu quero ser como as pedras. Quero ser uma coisa morta para que nada nem ninguém tenha grandes expectativas. Matar tudo e não deixar ficar nada. Enterrar debaixo de muita terra os sonhos, os cheiros e os amores. Não dar mais erros ortográficos, destruir todas as canetas e rasgar todos os papéis. Não ter medo de falar. Queimar o cabelo, cortar o rosto e partir os espelhos - esses monstros. Quero destruir tudo o que faz de mim um ser humano... quero apenas não ser.

biografia . a escuridão serve de mote perfeito para as infedilidades

Mares sem fim que banham continentes mas que não nos deixam ir a lugar nenhum. Norte e sul confundem-se. A bússula gira, perdida, incapaz de indicar qual é o caminho a seguir. Ninguém espreita à janela, toda a gente dorme e não há ninguém com quem conversar. Conversar é um fruto que está em vias de extinção. Não brinques mais, criança ingénua. Não brinques mais, não brinques mais.

Pó de Talco . It's travelling on a plane on my way . reflexo

Summertime.

Está tudo a acabar. A validade está no fim e estou certa que não vamos chegar a tempo de aproveitar a última dentada.

Vão devorar o mundo inteiro e nós não vamos comer nada.

Eu queria era beber, comer nem é o que me preocupa. Queria embebedar-me com o mar e dizer todas as parvoíces que guardo na caixa de pandora.

Mas não vamos a tempo.

Restam-nos os calos nos pés para o Inverno. Eu a odiar os teus, tu a evitar os meus. Não bastam cremes para recuperar a suavidade destes dedos gretados, estes calcanhares que já nada sentem. Se assim continuarmos, vamos viver para sempre.

Com calcanhares destes não precisamos temer a morte. Coitada, por muito que tente, não vai atravessar nunca este escudo de insensibilidade.

Hoje, toquei nos meus pés e não senti nada. Eu só queria ter pés de barro para poder caír, cair e quebrar todas as partes que me compõem, ficar em pó. E desse pó fazer cimento. E desse cimento construir uma auto-estrada barulhenta para dar cabo da cabeça a toda a gente.

Relato de um náufrago à deriva numa viagem que parece não ter fim

By Julie Morstad


"Não passes o tempo com alguem que não esteja disposto a passá-lo contigo." Palavras sábias de quem viveu cem anos entre coqueiros e areia branca. Eu tirei os sapatos para mergulhar nessa areia, afogar-me nela até não respirar, fitei o horizonte durante horas à espera de respostas que não chegaram, apenas marinheiros de boina na mão. Venham as princesas beijar-me para eu acordar deste sonambolismo eterno.

apontamento numa folha de papel velha

 . fantasma

por onde ir agora? tenho os pés cansados mas sinto que não posso parar agora. quem é esta que veste estas roupas e se esconde atrás das palavras? como veio aqui parar todos estes anos depois? descobriu alguma coisa? aprendeu alguma coisa? o que quer ela da vida, já sabe?
"Ah rapariga d'um raio que continuas perdida, caneco!..."

Por on de fugiu o A.?

A pequena princesa acordou a meio da noite, estremunhada. Não conseguia dormir com tantos sonhos a acorda-la. Tantos pensamentos, tantas decisões. O que fazer pequena princesa? Para onde ir? Porque não escapar a meio da noite tendo como guia somente uma folha branca. (Não deixar a fogueira apagar-se, sentido figurado - apontamento - silêncio). Volta a adormecer pequena princesa, que o sol já lá vem. Quem saberá? Ninguém.

smoking pipes of solitude in a empty bathroom

Musica que sai de tubos dançantes, sapatos sem rumo que se perdem no chão de pedra, cheiro a mijo e solidão, vontade de nos sentirmos enquadrados e as sapatilhas da moda a tentar acertar nos passos da dança. Dança rapariga, dança - sorri e não pares até ao sol nascer - dança com os canos de exaustão. Só podes beber e já tens as pernas a tremer. Tens que comprar bilhetes de comboio e fugir. Foge para a terra solitária do nunca, onde as estrelas não formam constelações e as pessoas dançam sempre sozinhas em pistas de dança apinhadas. Abre os olhos, não faz mal, não estás só na pista de dança.