Começo a duvidar da vontade de escrever. A vontade de ser palavra. A vontade de ser mais do que aquilo que posso na realidade. Já não acredito. Suspeito. Desconfio como desconfia o lojista do cliente. Serei de confiança? O que é esse ar de suspeita? Desconfio como desconfia o cigano do polícia. Sou como os gatos. Quero querer qualquer coisa que ainda não sei o que é ou vai ser. Vou querendo este querer mentiroso que me faz sentir mais segura por sentir que quero querer. E agora? E agora o que fazer no espaço vazio que existe entre querer e o querer o que vou querer?! O que há? Branco. Branco como folha que quero escrever mas que nunca escrevo pois nasci com mãos preguiçosas e com uma cabeça cheia de janelas que me fazem perder na luz branca. A luz - um hospital para ceguinhos, serve para abrir portas. Fechem as janelas que eu não quero ver o sol.
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