Pink Lipstick - you were my little girl dream

Eu sempre tive um fraquinho por ti. Tu sabias. E eu queria lá saber.
A única coisa que importava, era que isso me fazia sorrir!

"What is there to know?
All this is what it is
You and me alone
Sheer simplicity"

Conversa para adultos

Está na hora de crescer e tomar decisões que podem afectar os meus próximos 40 anos. Há que saber qual o caminho a seguir, quem quero ser. Se é fácil e simples para uma criança de 2 anos, para mim terá de o ser também. Queria que fosse sempre um passeio na praia, descalça, os pés na areia, a despreocupação total, aquela pequena liberdade que nos dão a provar enquanto somos adolescentes, mas que depois nos roubam quando nos dizem que crescemos, que já não podemos passar as tardes com os amigos num café, há que nos fazermos à vida! E o que é isso? Seremos nós como o domador de leões? Estamos fechados na arena com a vida á nossa frente e temos de a domar? Confesso que há dias em que não percebo nada.

Outono

"All of those little lights in the sky
They only stick your feet to the ground
You'd better keep your head down
All of this little dreams in your mind
They only make you wonder why
When you wake up you start to cry
When you come home you just want to die
There was a time you seemed to be fine
You were a rock when you were a child
Waiting for the turn of the tide
You thought the stars were sending you love
How come you never wondered why
When you came home, you started to cry
When you woke up, you wanted to die
All of this little lights in the sky
If you can make them fall you will rise
Just turn the mic of timeI thought
I could be able to find
Something to save all I left behind
But as I grew up I changed my mind
And only remained the stars in the sky
With your innocense fly by" (musical poem by Ane Brun)

Tenho saudades de passear contigo de pijama. Recordo aquele pequeno momento antes de adormecer, aquele em que as palavras são uma parvoíce músical à qual quase nem damos importância. Trepávamos aos telhados mais altos e tentávamos encontrar gatos pretos. Ficavamos sentados a ver as estrelas e depois perdiamo-nos nas linhas turtuosas das minhas histórias. Eu contava-te histórias, não porque tu as quisesses ouvir, somente porque eu tas queria contar, dava-me um prazer terrível imaginar lugares estranhos onde te levar, e tu vinhas sempre. E fazia-me feliz imaginar, era tão simples, natural como respirar. Vinhas comigo mesmo quando tinhas muito sono e arrastavas atrás de ti a manta da tua infância. Adormecias sempre antes de eu conseguir chegar à cama. O que não sabes é que às vezes eu não descia logo pela janela, às vezes ficava por lá a olhar-te, acho que era somente nesses momentos que eu conseguia ver as tuas palavras, eu nunca consegui perceber que o teu coração era mudo, e estava sempre à espera de provar a mim mesma que estava certa, que também ele podia falar. Agora a tua janela fica num lugar longinquo que eu já não me lembro. Quando passeio nesse momento antes de adormecer por esse mundo fora, vou olhando com atenção, mas nunca mais te encontrei, nem à tua janela. Agora são passeios diferentes, há outros lugares para ver, lá os vou imaginando, tentando não crescer para não os perder nunca. Gosto especialmente daqueles com árvores, lagos e pontes... Por vezes sinto que és um sonho. E a dormir digo "é" em voz alta. É, era um sonho que eu gostava muito. Agora sou aquela estrela do mar que não encontras quando o sono está disposta a não vir e te deitas na areia a dormir. Talvez um dia te possa acordar e dizer-te a sorrir "sou a estrela do mar"! E não saberás jamais se é melhor o desejo ou o espanto! Passaram mil anos desde o nosso encontro, no entanto na tua boca de menino, deixa-me dar-te um beijo. Um beijo de saudade.

Papão - o meu Adamastor

Eu era uma menina pequenina. Minto. Eu era uma criança assustada. Compreendo que não o soubesses, por isso me apetece contar-te agora que na altura não passavas de um monstro gigante, cujo o temor me torturava sempre que pensava em dar grandes passeios pelo bosque. Agora que o tempo passou e eu pude crescer o suficiente para ver o que há do lado de lá da mesa, olho para ti praí sentado e não posso deixar de ter pena. Crescemos todos e agora já não tens a quem meter medo. Estás esquecido nesse sofá para inválidos, olhas pela janela e aceitas as chávenas de chá que te dão sem sequer te importares se têm açucar. Pobre bichinho. Agora percebo que não és assim tão alto nem astuto, tens os olhos embrutecidos pelo tempo que passaste caminhando na neblina dos dias de Inverno. Eram os dias que gostavas mais, não tinhas que assustar ninguém e acreditavas que o mundo era só teu. E sabes, acredito mesmo que fosse.

a mudar a vida... ai ai, para que lado? aquele que o relógio apontar!

Conversas com o Sr. José
A vida não vai ficando mais fácil. Conheces certamente esta frase de outros momentos da tua vida em que pessoas com uma certa idade a suspiram, como se a desabafassem, naquele pequeno momento em que a verdade lhes escapa sem querer. A verdade é que não queríamos dizê-la, seria aquela frase secreta que guardamos com a vergonha de não termos percebido mais cedo como as coisas realmente são, sabes, pensam que com a idade vamos ganhando alguma sapiência, no entanto, é na surpresa dos anos que passam que a descobrimos um dia, quando nos damos conta que envelhecemos e continuamos a sofrer com aquelas coisas que sempre nos fizeram sofrer. Estou reformado. Poderias pensar que tenho todo o tempo do mundo para finalmente fazer as coisas que queria (no tempo em que queria coisas). Não as faço. Lembro-me do meu sonho - queria ser escritor. Guardava secretamente umas folhas rabiscadas, projectos de livros epopeicos dos quais apenas me lembro agora do esboço mental que fazia enquanto cumpria o meu horário na fábrica... foi o que ficou desses meus livros. E eu era bom, eu era... Eu sonhava que iria conseguir cumprir esses meus sonhos. Mas o tempo foi passando e foi-me roubando aquelas capacidades de jovem viril, a coerência, a memória, a vista... a vontade. Hoje sou um homem velho sem sonhos (e aqui quero uma frase sem vírgulas). Todos os que tinha morreram no momento em que percebi que a vida não vai ficando mais fácil. A coisa que aprendi com este punhado de anos foi que em tempos eu poderia ter tido uma grande vida, agora, com os meus óculos graduados e as minhas histórias, não passo que um velho que chateia os que não têm tempo para ouvir. (R.M.)

fragmento de um diário antigo

Estou contente com esta pequenina viagem que vou fazer. Parece que é uma viagem muito grande dentro de mim, até tenho borboletas a voar cá dentro. As minhas ruas e o cheiro no ar a mar do Norte, talvez as mesmas caras de antes nas mesmas esquinas, o chão, a luz, as pessoas. Lembro-me dos dias de Inverno, as luzes acesas, os guarda-chuvas pousados nos braços o brilho das poças de água... ainda que não seja Inverno estou contente por voltar ao Porto.

la la la, a vida não é para ser levada a sério pois não?

Ain't got no home, ain't got no shoes Ain't got no money, ain't got no class Ain't got no skirts, ain't got no sweaters Ain't got no faith, ain't got no beard Ain't got no mind Ain't got no mother, ain't got no culture Ain't got no friends, ain't got no schooling Ain't got no name, ain't got no love Ain't got no ticket, ain't got no token Ain't got no God What have I got? Why am I alive anyway? Yeah, what have I got? Nobody can take away I got my hair, I got my head I got my brains, I got my ears I got my eyes, I got my nose I got my mouth, I got my smile I got my tongue, I got my chin I got my neck, I got my boobs I got my heart, I got my soul I got my back, I got my sex I got my arms, I got my hands I got my fingers, Got my legs I got my feet, I got my toes I got my liver, Got my blood I've got life, I've got my freedom I've got the life I got a headache, and toothache, And bad times too like you, I got my hair, I got my head I got my brains, I got my ears I got my eyes, I got my nose I got my mouth, I got my smile I got my tongue, I got my chin I got my neck, I got my boobies I got my heart, I got my soul I got my back, I got my sex I got my arms, I got my hands I got my fingers, Got my legs I got my feet, I got my toes I got my liver, Got my blood I've got life, I've got my freedom I've got life, I'm gonna keep it I've got life, I'm gonna keep it (a Nina)