Papão - o meu Adamastor

Eu era uma menina pequenina. Minto. Eu era uma criança assustada. Compreendo que não o soubesses, por isso me apetece contar-te agora que na altura não passavas de um monstro gigante, cujo o temor me torturava sempre que pensava em dar grandes passeios pelo bosque. Agora que o tempo passou e eu pude crescer o suficiente para ver o que há do lado de lá da mesa, olho para ti praí sentado e não posso deixar de ter pena. Crescemos todos e agora já não tens a quem meter medo. Estás esquecido nesse sofá para inválidos, olhas pela janela e aceitas as chávenas de chá que te dão sem sequer te importares se têm açucar. Pobre bichinho. Agora percebo que não és assim tão alto nem astuto, tens os olhos embrutecidos pelo tempo que passaste caminhando na neblina dos dias de Inverno. Eram os dias que gostavas mais, não tinhas que assustar ninguém e acreditavas que o mundo era só teu. E sabes, acredito mesmo que fosse.

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