a minha vida é um quarto de hotel




Voar até o mundo acabar e não haver pessoas.
Voar até não haver mais asas para bater e então parar.
Pensava nisto antes de adormecer uma dessas noites. Pensava nisto e também em mudar de nome, mudar de casca, mudar tudo e ser outra pessoa, ter outra vida, uma vida perfeita. Mas foi também num desses passeios sem rumo que percebi que as vidas perfeitas não existem, assim sendo resta-nos recontá-las no papel, viver entre linhas a perfeição que não existe. Uma espécie de "copy paste" da realidade adaptada à fantasia imaginada de cada qual. Para vivermos todas essas vidas que gostaríamos teríamos de as registar no papel, fazer novelas e contos de fadas. Escrever é a libertação máxima, ainda que os haja, os censuradores, esses que nos querem entrar na cabeça e nas mãos e nas canetas e controlar o que escrevemos e pensamos. E ficamos com medo que destruam as nossas vidas, o nosso mundo de encantar. Ficamos com medo que até assim as nossas vidas perfeitas não sejam perfeitas.
Eu quero essas vidas todas que há dentro de mim! Quero a florista, a escultora e a cantora que existem dentro da minha cabeça. Quero a peixeira, a tarada sexual, a divorciada, a vendedora de carne! Quero todas elas sem censura, sem influenciar as suas escolhas e os sonhos que cada uma delas tem. 
Voar até não haver mais asas para bater e então, não parar.

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