Jogo de palavras francesas

lupa - nó - vaca - peixe *
Peguei na lupa da minha avó e pus-me a espreitar pelo buraco da fechadura. Inocentemente, pensava que assim via melhor as coisas do outro lado. Espreitei. E o que vi era bizarro: o meu avô António prendia a vaca a uma trave de madeira velha com um nó muito apertado. Depois, subiu a um banco e abriu a berguilha tirando para fora um peixe corado. Não sei como aquilo foi: a vaca a comer palha desajeitadamente e o avô pra cá e pra lá a esconder o peixe. Uma coisa eu sei: em casa dos avós não como mais peixe.
*não são palavras francesas, mas também, não interessa
se gostavas que eu escrevesse uma tontice com palavras tuas
deixa-as em comentário e eu lá escreverei qualquer "bizarria"

Got life, I got my life

Aint got no home, aint got no shoes
Aint got no money, aint got no class
Aint got no friends, no schoolin
Aint got no wear, aint got no job
Aint got no man
Aint got no father, aint got no mother
Aint got no children, aint got no
Aint got no earth, aint got no water
Aint got no ticket, aint got no token
Aint got no love

I got my hair, I got my head
I got my brains, I got my ears
I got my eyes, I got my nose
I got my mouth, I got my smile
I got my tongue, I got my chin
I got my neck, I got my tits
I got my heart, I got my soul
I got my back, I got my sex
I got my arms, I got my hands
I got my fingers, got my legs
I got my feet, I got my toes
I got my liver, got my blood

Got life , I got my life

[Nina Simone

Bonecos de Trapos - Kodamas


Foram desenhados com uma velha caneta de feltro e daí a tê-los na mão, foram apenas alguns momentos. Ainda não têm nome mas aceitam-se propostas. Gosto do nome Camila para ela... mas para ele não sei. Aguardemos!

Histórias de estranhos

Sinto uma parede dentro de mim. Uma parede que não me deixa ler as coisas que tenho dentro dos lugares mais secretos.
Tento saltar, espreitar, ter só uma pequena imagem do que há do outro lado, mas não consigo ver nada. Então sinto-me como uma actriz a representar o papel de mim mesma, papel que não sei onde me leva pois nunca sei as deixas, nunca sei quem vem a seguir para representar comigo, uma improvisação gigante onde todos participam mas onde ninguém entrega aquilo que realmente tem dentro de si - o seu verdadeiro eu.
Não quero ter cortinas nem muros a tapar aquilo que está do outro lado, mesmo que seja um monstro horrível que cresceu e come bananas enquanto me espera, calmo e plácido, para uma confrontação diante do tabuleiro de xadrez onde cada um dos peões é um bocadinho de mim cortado delicadamente para caber dentro dos quadrados.
É preciso encontrar a porta secreta, encontrar a chave secreta, a escada secreta... talvez precise somente de alguém que me ajude a trepar este incrível muro que esconde jardins (jardins certamente, pois tenho para mim que os monstros gostam de flores, e beijam-nas). Sinto-me como quando tinha uns 9/10 anos. Nunca tinha andado de bicicleta. Pensava que nunca ia puder aprender, nínguém à minha volta parecia interessado em ajudar-me a ultrapassar essa lacuna da minha infância, acreditava que ia crescer com mais uma dentada nas minhas aventuras e vivências infantis. E é quando a Maria José aparece. Uma miúda pouco mais velha que eu (chamavam-na de maria rapaz, miúda de rua, desleixada, asneirenta e impertinente - sem papas na língua) e foi ela que tratou de me preencher esse vazio infantil que muitas vezes me entristecia.
Com uma pequena e velhíssima bicicleta branca, deu-me as primeiras lições - "travas aqui, inclinas "prá li" pra virar e depois pões os pés no chão se achares que vais cair" - e lá ia ela a correr atrás de mim, com aquelas mãos pequeninas a segurar a bicicleta para eu acreditar que estava a conseguir.
Lembro-me de ter tido medo, mas confiei naquelas pequenas e trémulas mãos para me ensinarem a correr vento adentro, para nunca mais me esquecer de como se faz. Talvez precise da Maria José para trepar aquele muro. Talvez precise da sua rapidez de decisão, da sua coragem destemida de enfrentar o mundo dos adultos. Preciso vencer este muro.

a[gostos] X - o grito

O mais triste em sermos mulheres é termos de pintar por fora coisas que não somos para que gostem um bocadinho mais de nós.