Memórias de um vestido verde.

Tenho saudades tuas. Daquelas que não se poderão explicar jamais por serem tão estranhas. E eu sou pequena e não sei bem o que é isso de saudade, mas dizem que é sentir falta, relembrar e sorrir. Tenho saudades tuas. Dantes, eu guardava-me dentro de um guarda-fatos pequenino com uns puxadores muito redondos, sabes, foram feitos para tu os abrires quando quisesses, mas tu nunca quiseste e agora eu já não respiro, morri fechada dentro desse armário que criei só para ti. Porque gostava de ti. Ainda gosto, mas agora já não respiro, tiraram-me de dentro desse armário e colocaram-me dentro de uma caixa de cartão cheia de outras coisas minhas. Olha, até as cartas que não te escrevi estão aqui. Os sorrisos e as mãos que te queria dar. Gostava de mãos, sabias? Dos dedos entrelaçados, do silêncio. Às vezes ainda sonho contigo. Sorris para mim, damos as mãos e vamos descalços com os pés bem húmidos sobre uma relva tão branca tão branca que parece feita do céu, sabes, daquele céu que agora quase que não me lembro, aquele, aquele muito céu!? Penso em ti, e sei que estou longe, quem sabe a navegar em direcção ao continente Africano para servir de alento aos refugiados, aos que não têm nada. Eu agora também tenho muito pouco. Só algumas cartas e esta caixa. Começo a gostar. Sinto o cheiro a água salgada e a terra molhada, devo estar a chegar a qualquer lugar. Mas penso muito nesse armário só teu que agora ficou para trás, não sei o que foi feito dele, mas penso muito nos puxadores. As minhas memórias têm fios que se prendem a ti. Ainda bem que não sou feita de lã, ou seria um novelo perdido tentando voltar atrás e ser aquela que te esperava, todas as noites, espreitando pelo buraco da fechadura. Ah... como me fazes falta. Espero que alguma menina, de cabelo encaracolado, da cor do chocolate me transforme numa boneca de trapos e me ame, como eu queria que o tivesses feito.

1 comentário:

João Esquimó disse...

Essa pessoa deve ser muito estúpida. Faz-me lembrar aqueles velhos que guardam o dinheiro debaixo do colchão e que depois se esquecem que meteram lá o dinheiro e depois vivem uma vida de miséria como se fossem pobres.


Beijos, daqueles que parecem ter braços e pernas e que até besuntam a cara das pessoas!!

(esta coisa da verificação de palavras é irritante, nunca sei se o ó é ó ou zero, e vice-versa, e depois perco o texto que escrevi quando ele dá erro)