despir

Hoje quero despir-me essas preocupações mundanas e irritantes. Quero somente sentar-me num banco de jardim e não pensar em mais nada. Ter uma caneta azul na mão e escrever todas as coisas que me vierem à cabeça sem me preocupar com os erros ortográficos e a sensação de estar constantemente a falhar. A verdade é que qualquer miúda de 14 anos escreve mais do que eu, e depois? "querido diário, estou muito feliz, comprei as calças que tanto queria. O a. agora vai reparar em mim, finalmente estou igual a todas as outras miudas do liceu" Não quero mais uma felicidade alcoólica que me adormece os sentidos e me impede de viver as coisas como realmente são. Não mais esse jogo perigoso de fingir que se vive. Estes dias quentes de Outubro fazem-me sorrir. Pudesse eu escrever sempre as coisas que me vêem à cabeça antes de chegarem todos os medos. Pudesse eu ficar-me pelas histórias, esse momento mágico antes de todas as coisas mundanas me afogarem em medos e me despirem das minhas canetas. A caneta é a minha boca, sem ela nada sei dizer. Tragam os vossos alfinetes e espetem-nos no meu coração, quero saber se ainda sinto.

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