Eu queria poder cortar todas as minhas roupas e ficar nua. Ficar em silêncio, despida de todos os artificialismos e deixar-me observar por todos esses voiyers tétricos que esperam que eu caia e morra. Ficar na rua à mercê de todos os olhares, de todos os gostos e julgamentos.
Odiada ou amada - mas nua, verdadeira.
Eu queria poder ficar zangada com as pessoas. Gritar-lhes durante horas e bater na sua carne mole de sofá. Limar as minhas unhas na parede até não ter mais dedos... ter somente braços pintados de vermelho. Não ter seios, não ter homens com desejo. Não ter nada, não ser mulher. Queria ser um livro, um livro numa banca de feira, cheio de gotas de chuva do Outono, saliva e anotações a lápis. Se me deixassem eu seria um bilhete de amor, sou parva, acredito nessas lambuzisses da Disney, esses seres assexuados que cantam e dançam para toda a eternidade... ainda ontem vi a Cinderella e pelo que me pareceu ainda é virgem.
Eu queria poder escrever todas as frases soltas que se formam na minha cabeça, ainda que sem conexão umas com as outras. Eu queria poder fazer desenhos no teu corpo, escrever um livro, beijar o teu corpo. Abandonar-te ao frio. Aquecer-te com o meu próprio corpo mutilado. Cicatrizes do tempo, da chuva.
Eu queria fazer imensas coisas que não posso porque estou com o período.
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