Summertime.
Está tudo a acabar. A validade está no fim e estou certa que não vamos chegar a tempo de aproveitar a última dentada.
Vão devorar o mundo inteiro e nós não vamos comer nada.
Eu queria era beber, comer nem é o que me preocupa. Queria embebedar-me com o mar e dizer todas as parvoíces que guardo na caixa de pandora.
Mas não vamos a tempo.
Restam-nos os calos nos pés para o Inverno. Eu a odiar os teus, tu a evitar os meus. Não bastam cremes para recuperar a suavidade destes dedos gretados, estes calcanhares que já nada sentem. Se assim continuarmos, vamos viver para sempre.
Com calcanhares destes não precisamos temer a morte. Coitada, por muito que tente, não vai atravessar nunca este escudo de insensibilidade.
Hoje, toquei nos meus pés e não senti nada. Eu só queria ter pés de barro para poder caír, cair e quebrar todas as partes que me compõem, ficar em pó. E desse pó fazer cimento. E desse cimento construir uma auto-estrada barulhenta para dar cabo da cabeça a toda a gente.
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