Eu penso muito na avó Luísa. Para mim Luísa não é um nome de avó, mas é assim que ela se chama. É a única avó verdadeira que eu tenho, uma avó que era mãe da minha mãe, ainda que sempre me fizesse confusão isso das mães terem mães. Especialmente a avó Luísa, como poderia ela ser a mãe da minha mãe? A avó Luísa não tem nada ar de mãe, não gosta de cozinhar, e para ela as lides domésticas são um fardo difícil de suportar. Lá vai fazendo umas sopas, mas a contragosto.
A avó Luísa não é uma mulher bonita. Diria mesmo que não é uma velha bonita.
A avó Luísa parece uma estátua inacabada, como se o escultor tivesse desistido de carvar na rocha aquele rosto e assim ficou para sempre, um esquiço em pedra. É de uma rudeza belíssima. Um rosto embrutecido com olhos pequenos, um nariz estranho e uma boca fina. As linhas do rosto parecem zangar-se umas com as outras, um rosto que poderia bem ser um campo agreste por cultivar.
A avó Luísa não faz parte daquelas velhinhas que nos mostram os seus antiquíssimos retratos da juventude para nos provarem que em tempos eram belas, com as linhas clássicas de uma beleza que já não existe, a avó Luísa pelo contrário esconde todas as fotografias onde ela aparece, especialmente os retratos - a avó Luísa foi feia desde sempre. Lembro-me de colocarmos uma fotografia da avó Luísa na sala da família, foi num Natal qualquer em que se começou a dar importância aos antepassados. A avó ao ver aquilo tratou logo de esconder o retrato atrás da geração mais nova dos Carvalho.
Ela sabe que é feia, ainda assim tem o maior espelho da casa no seu quarto.
A avó Luísa está muito velhinha. Conserva apenas a sua pele de pêssego, oferta de um Deus Criador a quem ela reza com devoção, pele que amacia com cremes de todas as marcas e cores. A avó Luísa tem apenas rugas na testa. Outra coisa característica da avó Luísa é o seu bigode. Uns pêlos pardos desbotados pelo tempo, mas em tempos, quando era uma rapariga nova que gostava de bailaricos, eram negros, a condizer com o cabelo e os olhos.
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