Desarrumação Mental

Não, não há explicação para a desorganização. As palavras atiradas assim pelo chão, desorganizadas e sem fazerem sentido fazem um nó na garganta. Os sentimentos, engalfinhados numa teia, discutem sem perceberem a sua ordem. E as imagens levam-me para aquela rua em direcção ao terreno da avó Luísa, O Ribeiro. E deixo-me ir, está sol, as casas de pedra em ruína fazem sombra e o alcatrão está quente. Estou descalça. A vegetação está amarela, deve ser quase Verão. Os meus olhos humedecem de emoção ao rever a paisagem que há anos não via, está tudo igual, ou então são as minhas memórias antigas de quando ali passava de bicicleta. As cerejeiras estão verdejantes, cheias de erva por baixo a abraçar-lhes o tronco. O sol beija-me a pele, parece abraçar-me com uma força carregada de saudade. Deixo-me ir naquela saudade de imagens que me inunda como uma onda do mar invejosa. Os pinheiros continuam altos e jovens como eu os deixei, e o Ribeiro canta já as suas notas de água ao dançar por entre as rochas. A minha desarrumação mental explode-me do peito.