Frigidez II

Eu queria poder cortar todas as minhas roupas e ficar nua. Ficar despida de todos os artificialismos e deixar-me observar por todos esses voiyers tétricos. Ficar na rua à mercê de todos os olhares, de todos os gostos e julgamentos.
Odiada ou amada - mas nua, verdadeira. Eu queria poder ficar zangada com as pessoas. Gritar-lhes durante horas e bater na sua carne mole de sofá. Limar as minhas unhas na parede até não ter mais dedos. Ter somente braços pintados de vermelho. Não ter seios, ter apenas homens com desejo. Não ter nada, mas ser mulher. Queria ser um livro, um livro numa banca de feira, cheio de gotas de chuva do Outono, saliva e anotações a lápis. Se me deixassem eu seria um bilhete de amor, sou parva, acredito nessas mentiras da Disney, ainda no outro dia vi a Cinderella e pelo que me pareceu - ainda é virgem. Eu queria poder escrever todas as frases soltas que se formam na minha cabeça, ainda que sem conexão umas com as outras. Eu queria poder fazer desenhos no teu corpo, escrever um livro nele, beijar-te. Abandonar-te ao frio. Aquecer-te com o meu próprio corpo mutilado. Cicatrizes do tempo, do mau tempo. Eu queria fazer imensas coisas e a verdade é que, hoje, posso fazer tudo isso.

Sem comentários: