Fugir. penso nisso muitas vezes quando dou por mim imersa nessa solidão matinal dos dias que se perdem na rede da vida. Fugir em direcção ao horizonte e transformar-me numa daquelas silhuetas disformes que dançam um bailado suave ao desaparecer suavemente para sempre nas nossas memórias, mas não bem, fica a névoa de um dia quente e bonito com laivos de dourado de uma manhã quente de Outubro. Rasgo a minha roupa para me ver melhor, para ver se ainda estou aqui dentro de mim , e sim. Consigo vislumbrar qualquer coisa pálida, uns seios redondos que a medo se mostram, um ventre liso, umas pernas compridas e trémulas que não percebem a rejeição. Estou aqui, debaixo de todos estes trapos que servem de personagem e que vão cumprindo o seu papel. De mim apenas as minhas mãos seguem a sua jornada, mostrando a sua beleza de sempre, nuas, prontas a serem tocadas em qualquer altura. Não que isso te interesse, eu sei que não. E vou vomitando estas coisas para os papéis, para os livros, sublinhando textos e frases a ver se me curo, como se tivesse ingerido um veneno e agora morresse aos poucos, cuspindo pedaços de um amor que se vai desfazendo em cartas, frases, livros e outras pessoas. Enveneno-me cada vez mais e espero que a minha cura esteja algures entre as viagens de comboio e o cais.
1 comentário:
tão sincero, simplesmente lindo
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