Pudesse eu descrever o que sinto e seria uma pessoa feliz. Mas nem isso. Há riscos nas palavras, e todas elas não passam disso, um desenho no papel, mas um desenho abstracto que pode significar tanta coisa que não há tempo para explicar o que têm para dizer. Esmoreço perante a insignificância dos sentimentos que poderão existir dentro de mim, das palavras e dos desenhos - por dentro ou por fora. E atiro com as folhas pela janela, rasgo os cadernos que nunca vou escrever, e apetece-me até cortar a língua, pois falar me parece inútil, com tantos ouvidos surdos por aí fora.
Ficar somente com os olhos, para ver tudo com a tristeza que também eu sou como aquele cão, um ser crédulo à espera de ser solto para a seguir me apedrejarem e me mandarem embora, para não me quererem. E não vou perceber porque me libertaram então, para depois não me quererem. Antes preso numa casa abandonada na esperança vã que um dono asqueroso me viesse visitar um dia, do que aquilo. Libertarem-no, darem-lhe esperança e depois abandonarem-no assim, à pedrada.Não durmo com a imagem daquele cão na cabeça, e acordo de noite para o ver a correr atrás do carro, e já não sei se sou eu que estou a correr ou se é o cão, só sei que quero que me levem para casa, mas o carro pára e atiram-me com pedras.
Há dias em que o mundo é apenas um buraco horrível cheio de gente com quem não apetece estar.
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