Quem a irá amar agora? (Inspired by a woman in Restelo)
E naquele indefinido dia de Inverno, naquela hora em que a tarde se funde com a noite, uma rapariga alada percorria mais uma rua em busca de clientes. De ar catita e vazio, daquelas que os homens mais gostam. Pensava nos brinquedos da infância para entreter a mente e retardar as perguntas vorazes vindas de dentro de si mesma, daquela que vive dentro do seu corpo e a vê vender-se assim, a qualquer um, sem amor nem prazer. Pensava como gostava de brincar quando era ainda uma menina, como tinha uma imaginação fértil, como sonhava. O mundo era tão mais inocente, e aquele lusco-fusco nunca lhe metera confusão. Restavam-lhe agora as parcas memórias para se afogar nelas enquanto se aquecia no corpo de estranhos. Um carro pára e a janela abre-se devagar. Ela não tem pressa. Pudesse a vida inteira resumir-se àquele momento, antes de tudo acontecer. As luzes da rua acendem - está na hora de começar a trabalhar.
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