Revisited - Entrelinhas (algures estou eu, caneta de aparo sem tinta)
Sentou-se no bar. As mãos tapando o rosto. A agonia de mais um dia naquelas mãos. O barman olha-a. Limpa um copo com paciência, pergunta-lhe o que vai ser e ela atira-lhe "cheio". Whisky. Ela não gosta de whisky, fá-la sentir agoniada. Bebe. Precisa sentir algo forte. Resumindo, precisa sentir qualquer coisa para além das suas duas mãos frias. O copo fica vazio. Pede outro. Não sabe porque está a beber. Acha que é por estar triste. Ela não se sente triste, na realidade seria bem mais fácil se ao menos pudesse saber com exactidão que raio de tumulto é aquele que atravessa. Olha à volta. Um par de velhos olha intrepidamente um jogo de futebol, trocam comentários sem nunca desviarem o olhar. De vez enquando o barman para de esfregar os copos com o seu farrapo para ficar a admirar o ecran florescente. Abana com a cabeça quando discorda com alguma coisa. "Mais um?" pergunta-lhe o homem ao ver o copo novamente vazio. Só a conta. Quer sair dali, precisa caminhar durante um bocado, caminhar destila-lhe o furor de mais um dia vazio de nadas absurdos e sem sentido. Sai do café, a pergunta que lhe aparece na cabeça irrita-a "esquerda ou direita?", está-se a foder se é para a esquerda ou direita. Acaba por ir para a direita, a rua é a descer e vai em direcção ao mar. Ao rio, já não se lembra do que é aquilo, que cidade é, qual o nome. Lembra-se vagamente de ter ouvido falar de outros lugares no mundo. Hoje? Hoje é só um dia para não ser, e na realidade, ela não acredita mais nisso.
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