As mulheres da minha vida

- Queria ser forte como a avó, não ter medo de nada, sair à noite e enfrentar o escuro com uma faca na mão.
Foi com uma certa fragilidade que a minha irmã o disse. A minha avó Luisa é assim, dona de si e do mundo. E ao ouvir aquelas palavras voltei ao passado, voltei a estar sentada no banco junto à lareira, rodeada pelos meus irmãos, aquecida por um tronco em chamas a confessar-lhes que o que eu mais queria era ter abraçado a nossa mãe mais vezes. E no seu silêncio havia muitos abraços por dar também.

Percebo que aquela terra de pedra nos fez duros, porque assim tinha de ser, e alegro-me de hoje conseguir ver o quão maravilhosos são os corações das mãos calosas e frias que nos acariciam a testa.
Quando as conversas encarrilham para os caminhos do passado, todas as mulheres que me precederam eram fortes e sofridas, mal amadas mas corajosas. Orgulho-me delas, com defeitos e tudo. E gostava de saber mais da Mariana, da Maria e da Conceição cujas mãos, estou certa, também seguravam facas para enfrentar o escuro.
E há uma coisa, que eu estou certa nos liga a todas sem barreiras de tempo - a coragem. E sei que há muitas heranças nesta vida que gostaríamos de receber, mas olhando para as mulheres do meu passado e vejo o que me deixaram orgulho-me da coragem. Haverá herança mais bonita do que essa?

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