Escrever, é assumir a identidade de determinado texto ou história. Sem nós, tais palavras não existiriam. Pesando bem estas últimas frases, penso que daí advém o facto de eu não escrever nada nos últimos tempos. É bom de mais não ter compromissos com nada, guardar nos bolsos as opiniões e ser livre de dedos apontados. Mas hoje acordei com vontade de ter cordas na garganta, e os dedos pedem para dizer qualquer coisa, ainda que eu não saiba bem a implicação futura das suas palavras.
Sei que não se trata de saudade, essa esgotou-se à muito tempo, e nem faria muito sentido sentir falta daqueles tormentos. E no entanto sei que minto. Sim, estou a mentir, eu sei o que eles querem dizer, sei o que eles têm evitado escrever durante tanto tempo, sei que eles anseiam dizer-te desenhando delicadamente vezes sem fim essas palavras secretas e esperam fazer-se entender de uma vez por todas, sem confusões...
Trata-se desse carinho eterno de que ouviram falar.
Esse, que ainda que se confunda com amor eterno, diferencia-se por não nos consumir.
É nisso que eles têm passado o seu tempo, a desenhar letras dentro dos meus bolsos, dia atrás de dia nesta ânsia de te dizerem que é verdade, há este carinho eterno que nunca te disse, e certamente nunca to será dito abertamente, eu não seria capaz.
A história que nos une é demasiado horrível, distorcida e conturbada para que possamos falar dela sem olharmos para o chão cobertos de vergonha.
Mas os meus dedos precisam de to escrever, ao menos isso, ou eu sangraria de tanto impedir as mãos de reproduzir cem vezes, em folhas mil as palavras que a boca não diz... carinho eterno.
Carinho eterno.
Carinho eterno.
Consegues perceber?
Eu não to poderia explicar, pois a minha boca não se abriria, portanto rogo-te que aceites essas folhas que as minhas mãos vão escrevendo por aí, na tentativa de limpar a alma.
Carinho eterno.
Se ao menos pudesses perceber o quão profundas são estas palavras. Estou certa que os meus dedos não deixarão de as escrever, ainda que as impeça e as prenda dentro dos bolsos, farão desenhos contra o tecido e escreverão na escuridão... Carinho eterno.
Carinho eterno.
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