Esta noite sonhei com as minhas amigas de infância.
Estávamos juntas novamente, a mesma dinâmica, tudo igual. Éramos as mesmas num corpo de mulher adulta, e tínhamos coisas de adulto. Um carro que nos levava cidade adentro, numa noite animada de euforia e reencontro.
Foi um sonho vívido, com pormenores e detalhes como estar em casa a arranjar-me, a campainha tocar, reencontrá-las à porta à minha espera, sorridentes. Depois fomos tomar um café juntas e falámos da distância, nos anos que nos separaram, falámos de trivialidades como os sapatos que escolhemos para levar nesse dia, a nossa roupa.
Quando acordei deste sonho, um misto de saudade e alegria preencheram a minha manhã - sim, de facto tinha sido como se estivéssemos juntas uma vez mais e tudo estava na mesma.
E depois pus-me a lembrar quando éramos pequeninas, no recreio da escola, a fazer promessas amorosas de que nunca nos íamos separar, que a nossa amizade era para sempre. Que mesmo que ficássemos adultas um dia e não nos víssemos durante muitos anos, que nos iríamos abraçar no reencontro, e conversar com o à-vontade de sempre. Prometíamos que não haveria nunca distância que nos pudesse vergar, estaríamos sempre próximas e conservaríamos intacta a nossa amizade eterna. Nada nos poderia separar. Prometíamos umas às outras, jurávamos com as mãozinhas garanhas, agarradas em círculo no recreio nos jogos que nos uniam, inocentes e alheias ao verdadeiro significado da vida e da distância.
Éramos virgens em muitos sentidos, e também me pus a pensar nisso. A inocência é não perceber nada de sofrimento, de rupturas amorosas violentas, de distâncias. O conceito de kilómetro e metro é abstracto, e a saudade é um sabor que não sabe a nada.
A inocência de viver no meio da maior violência e ter a esperança constante que as coisas vão ser boas para sempre, é viver na miséria e acreditar que um dia vai ser muito melhor e que será melhor não só para mim, mas para ti também...
Digo virgens ao ponto de sonharmos que tudo ia ser eterno, especialmente o amor que nos unia, seriamos inseparáveis. Mas desconhecíamos o verdadeiro significado que dormitava dentro de eterno, ignorávamos o seu rugido de monstro com fome.
Quando acordei deste sonho hoje de manhã, depois de ter passado a noite com as amigas que não vejo há tantos anos... Quantos? 5? 10? Foram já séculos? Tive uma vontade imensa de as abraçar de verdade e agradecer ter crescido com elas no meio de tanto frio, um frio em tantos sentidos... que tentámos quebrar cuidando umas das outras como fazíamos com as nossas bonecas.
Tive uma vontade imensa de lhes agradecer o ter crescido nessa amizade inocente de casa do campo, onde de mãos dadas viveríamos juntas para sempre.
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