O medo da infância

Deparo-me com a seguinte conclusão depois de vários dias de mastigação mental: posso estar, neste preciso momento, naquele ponto central da minha vida em que a distância que me separa da minha infância e a distância que me separa da minha morte são a mesma. Sim, podem contra-argumentar que viverei certamente para alem dos 60 anos, mas estou a ter em conta as doenças familiares, os incidentes que não controlamos, e 60 parece-me  aquele ponto final possível nesta curta caminhada. Tenho pensado muito na minha infância, especialmente nos seus becos escuros e esquinas sombrias. Há muito em mim que não cresceu por ter sido quebrado nessa idade, e ainda que eu tenha vagas memórias do momento em que as coisas terríveis aconteceram, existe um véu espesso que me impede de ver com claridade. Quero enterrar para sempre os monstros, fazer-lhe o devido funeral. Chega. É possível certamente abrir janelas e deixar entrar luz. Vivamos sem obsessões no passado.

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