Paralelismo

Como está a mulher do primo Elísio?
Cá está, mal. Coitada. Não lhe conseguiram tirar a bala. Vai viver o resto da vida assim...

Vai viver o resto da vida com uma lembrança física da atrocidade do amor.
Não o disse em voz alta. Por esta altura a minha irmã contava-me das muitas conspirações existentes no concelho sobre quem matara quem, quem odiava quem. O certo, é que ninguém percebeu nada com a morte do primo Elísio - o amor também pode ser monstruoso e assassino. O certo, é que a única sobrevivente à mortandade do amor, andava na rua com uma bala dentro do corpo, e toda a gente sabia.

E eu pensei em ti e em mim.
Nas nossas balas, nas que existem e não se veem.
Balas que ardem como brasas e nos consomem lentamente. Matamo-nos em segredo, meu amor.

E é isto que sai, quando chupo o veneno das veias.
Mas é melhor assim, longe do veneno, longe das balas.

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