As pazes com o corpo - o texto lamechas da semana



Foram precisos 30 anos dentro do corpo de uma mulher, para finalmente fazer as pazes com ele.
No início foi uma relação boa, mas depois as coisas tornaram-se complicadas quando ele se rebelou e começou a crescer para todos os lados e a ter vida própria. Penso que só quem é mulher compreende o inferno da puberdade, os pelos, os seios, o período. Tudo muda e demasiado rápido. Durante anos boicotei a minha imagem por não gostar do meu corpo, e talvez "não gostar" não seja a expressão certa. Era como vestir uma roupa demasiado grande, outras vezes demasiado pequena. Mas o que demorou mais tempo a assentar-me como uma luva foram os meus seios.
Mamas.
Peitos.
Seios.
Melões.
A obsessão da descrição e invisibilidade na adolescência foi completamente terraplanada por essas duas protuberâncias que surgiram do nada, sem estar à espera, como se o meu próprio corpo me atraiçoasse - se eu não tivesse cuidado, havia olhos virados para mim. Durante anos, boicotei a sua visibilidade usando todo o tipo de arte-manhas: soutiens apertadíssimos, roupas largas, golas altas. Do outro lado do espectro, estavam as minhas amigas, que aceitaram bem a chegada dos seios, e os souberam usar como armas de conquista e sedução. E havia em mim uma admiração sem limites, porque também eu me queria sentir assim.
Foram precisos 30 anos para me olhar de frente no espelho, de olhos bem abertos e pensar "não metem medo". E rebelei-me contra todos os soutiens de enchimento, todos os soutiens que tentem disfarçar os mamilos hirtos do frio.

Hoje, posso dizer com orgulho que gosto deste corpo que tanto desgostei. É o meu, É o meu, e fica-me bem, com defeitos e tudo.

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