João, hoje pensei muito em ti.
Lembrei-me da nossa infância juntos - infantário, primária, preparatória... de quando brincávamos com os teus playmóbil, de quando brincavámos no recreio ao faz de conta das novelas e tu dizias que eras o Tony Ramos, e eu acenava que não com a cabeça em discordância e desagrado - a ideia de ti com aqueles pêlos no peito não fazia sentido na minha cabeça.
Lembrei-me de quando iamos andar de baloiço no jardim do Sr. Eurico, mesmo quando o Carlitos não estava. Lembrei-me de quando tinhas que escolher entre mim e a Joana, e só podias escolher uma como tua namorada - e eu não me importava que escolhesses sempre a Joana.
Nós tínhamos a nossa amizade disfuncional, ia para alem de estratos sociais. Era uma relação retorcida, juntos fazíamos coisas que hoje ainda tenho dificuldade em admitir - mas eramos cúmplices, e tu vinhas sempre tirar-me do meu casulo.
Tínhamos o nosso mundo de fantasia e um mundo que nos separava, mesmo quando me davas a mão e me apertavas os dedos até doer, eu gostava de ti na mesma.
Sinto saudades tuas. Nos últimos anos não sabia nada de ti e tu nada de mim, e muitas vezes tenho pena que nos tenhamos afastado tanto.
O mês da tua morte foi o mês da minha libertação. Liguei sempre as duas coisas, como um aviso.
Meu amor, o primeiro, sinto-te a falta.
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