de olhos fechados

Quando tenho saudades dos lugares, fecho os olhos e imagino-me a percorrer as velhas ruas, imagino-me a entrar nos lugares do costume, e até, a cruzar-me com as pessoas que eu costumava ver de quando em vez. A minha viagem é sempre feita de autocarro, gostava daquela linha, as pessoas eram todas engraçadas e toda a gente se conhecia. Quando desço, na paragem onde costumava sair, desço também a rua em direcção à minha pastelaria preferida. Entro, sento-me na minha mesa, como gosto de lhe chamar, e como uma tarte com frutas frescas. Está sol, nesses meus passeios. E falta algum tempo para o sol se pôr, penso que ainda tenho muito tempo para ir a muitos lugares antes de abrir os olhos e terminar o meu passeio. Bebo o café que ainda esta quente, olho em volta e deixo-me ficar nos detalhes das muitas mesas ocupadas. Depois concentro-me na janela e no que posso ver através dela. As árvores estão verdes, a relva foi cortada. O sinal de transito esta vermelho e os carros amontoam-se à espera que ele os deixe passar. Levanto-me e vou pagar, digo obrigado ao receber o meu troco e saio. Atravesso a passadeira e vou em direcção ao jardim, os pombos estão por todo o lado a comer as migalhas de pão que uma família lhes dá. Os velhotes do costume ainda jogam, e as velhotas estão sentadas nos seus respectivos lugares com o ar alheado de que está um bocado perdido.
A livraria ainda esta aberta, consigo vê-la daqui. Quero ir lá. Está igual. As minhas memórias deixaram-na naquele momento - com a escada das estantes entre os livros de ciência e de direito. Os livros de poesia estão do meu lado direito, na quarta prateleira a contar de baixo, lembro-me bem, escolho um ao calhas e abro-o. E faço uma e outra e mais outra vez.
E vou fazendo-o, até que as saudades se esgotem todas e eu não consiga mais ler as palavras.