Ópio do Povo - dizer o quê

Não querer nada é como uma doença. Começa com o excesso de merda. Há demasiadas opções no caderno da vida. É um totoloto de cruzes que não podes apagar ou mudar. Escolhes a tua chave e jogas com ela. Dão-te é a ilusão que podes ganhar alguma coisa com isso.
Casa-te. 
Trabalha. 
Estuda. 
CALA-TE. Não fales, não penses. 
Come. Comer é muito importante.
Tens um prémio, sabes? O dinheiro, o protagonismo, a importância na escala social. Uma televisão, um carro e no fim - uma casa. Depois vem a reforma. Os filhos que não querem saber de ti. 
Queres ser alguém? Entra no jogo!
É que o relógio "tique-taca" sem parar e quando menos esperares estás a urinar para um fralda com uma agulha enfiada na veia do pé para te alimentar o sangue. És velho e já não queres saber mesmo de nada. Pensas na tua vida lá longe nos confins do passado e achas que realmente não viveste nada. Sabes que mais? Não viveste. Jogaste nos números errados e não ganhaste NADA. A tua televisão é uma merda. O teu carro? Quem o quer? Com sorte, mudam-te a marca das fraldas para que não fiques com o rabo assado.
Temos opção? É uma ilusão. A vida é uma fábrica gigante de carne para alimentar o chão. Vivo para morrer e dar de comer à terra. E eu nem me importo. Eu sempre quis ser uma flor.
A dor de querer. Quero.
Eu quero acabar com tudo e não me importar com nada.
Passear semi-nua no areal. Comer conchas. Beber o céu.
Mas nada disso existe. Querem matar as metáforas. Fazer delas frases esquecidas dentro de livros que talvez nunca sejam lidos. 
Eu não existo. Não existo neste conceito de existência que me querem vender. 
Sou como as línguas mortas. Um vago registo de algo que ninguém se lembra.

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