Onde é que foi que ficou essa parte de mim tão fantástica que eu nunca cheguei a conhecer?

"Ouvi dizer que vais morrer. Hey, não faças essa cara, não se sabe quando é que vai ser. Calma... Ouvi dizer que vamos todos morrer, parece que é uma coisa natural ou assim (não sei como é que podem achar a morte uma coisa natural... mas dizem que é). Eu não gostava de morrer. Nunca foi adepta de lugares fechados, e os caixões, perdoem-me, mas são minúsculos, tenho cá para mim que aquilo nem deve dar para dormir de lado. E depois a terra? E as humidades? Terão eles pensado nessas coisas? Até parece que temos de morrer para depois sermos transformados em minhocas. E se calhar é isso, é isso não é? Se nos portarmos mal enterram-nos debaixo de muita terra, esperam que nos transformemos e depois vã-nos buscar. Eu vi! Um dia fui com o meu pai andar de bicicleta ao longo do Douro e havia lá um senhor que tinha um balde cheio de minhocas. Vendia os saquinhos a 2€. Eu pedi para o meu pai comprar um saquinho, mas ele disse que não, que aquelas minhocas serviam para pescar peixes no rio. Eu fiquei triste, sabes? Uma daquelas minhocas podia ser a avó São, quem sabe?Coitadinha, ali no meio daquelas minhocas todas a olhar para mim a vê-la lá de cima... A morte é uma coisa triste... acabamos na barriga de um peixe, e mais tarde na barriga de gente." (Marie aos 9 anos conversando com uma amiga)

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