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Ouves-me, eu não queria escrever na primeira pessoa, queria fugir a isto, mas é-me difícil. Parece que as palavras se esgotam nos outros tempos verbais e sou encurralada com textos na primeira pessoa. Passo a vida em cafés imaginários, pessoas imaginárias, vidas que não existem e que me consomem, vozes que não se calam, textos que se escrevem no pergaminho da minha cabeça. Quando o tempo sobra para mim, neste pano sem fim dos dias, e posso ler livros de outros que como eu imaginavam vidas, penso na tortura que partilhamos, os que temos tantos dentro de nós a viver. Uma cidade inteira de homens e mulheres, que complicam, que fornicam, que se amam. Algum dia terei de organizar todos eles e escreve-los.

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