Eu tinha uma janela cheia de estrelas e um livro que me contava histórias de uma menina com olhos de gigante

Sim, sim, quero parar com essas coisas. Quero estar calada. O que é que estás a fazer? Deixem-me estar calada a lembrar-me das amendoeiras. O cheiro do batatal de madrugada, o barulho das mulheres do campo a bater os baldes enquanto esperam por mais um amanhecer. Calem-se também os grilos que cantam. A mãe quer chá? Eu queria amigos, mas paciência, as crianças não podem ter tudo. Não faz mal, eu faço o chá e invento as crianças nos livros e nas coisas. Eu falava sozinha "O que é que estás a dizer?", nos livros, nas coisas. Eu falava sozinha e imaginava um mundo diferente em que me obrigavam a comer a sopa e a tomar banho. Pensando bem sou uma cigana. Sempre de cá para lá, um deambular solitário de quem só quer comer pão com manteiga. Ao menos que eu tivesse tido um burro.

1 comentário:

a Tal disse...

Amo a forma como escreves. Não consigo para de ler-te.