...
A confiança e o nosso maior ponto fraco.Achamos que estamos curados das saudades. Achamos que a ausência já não nos afecta e que de facto o tempo passou uma esponja por cima de tudo. Achamos que finalmente compreendemos o sentido universal das coisas, e seguimos vivendo a nossa vida nessa cadencia que nos sabe tão bem - dias, semanas, meses, anos. Depois há aquele momento, aquele momento vulgar do dia a dia, que nos desarma de todas estas almofadas emocionais, nos atira contra a parede, nos cospe na cara e nos faz perceber que tudo não passava de uma armadura exterior para esconder algo muito profundo. Percebemos que afinal continuamos a não perceber nada, continuamos a sentir saudades, as esponjas não limpam nada quando se trata de dores emocionais. O meu momento foi tão simples como escutar a voz daquela mulher, ouvir a sua historia por entre o tilintar das chávenas de café.
Senti um onda a abater-se sobre todas as minhas certezas e apaga-las de uma só vez. Pensei que ia desmaiar, deixei de conseguir engolir, respirar - o que e que se estava a passar? Para, controla-te.
A senhora, franzina e curvada, relatava com bravura os últimos meses de tratamentos no IPO. A sua voz, apagada pela dor, pelo medo, tinha o som cristalino da esperança. E naquele momento, naquela mesa, eu conseguia ver a minha mãe há 12 anos atrás, a falar sobre a sua luta, a falar de como também ela acreditava que depois de passar por aquele inferno tudo ia ficar bem. Percebi, depois destes anos todos de conjecturas, de teorias, de tentar dar um sentido a tudo, percebi que não era com o Cancro que eu estava zangada... não. Sim com esperança.
Não, nunca estamos preparados para ficar sozinhos.
Senti um onda a abater-se sobre todas as minhas certezas e apaga-las de uma só vez. Pensei que ia desmaiar, deixei de conseguir engolir, respirar - o que e que se estava a passar? Para, controla-te.
A senhora, franzina e curvada, relatava com bravura os últimos meses de tratamentos no IPO. A sua voz, apagada pela dor, pelo medo, tinha o som cristalino da esperança. E naquele momento, naquela mesa, eu conseguia ver a minha mãe há 12 anos atrás, a falar sobre a sua luta, a falar de como também ela acreditava que depois de passar por aquele inferno tudo ia ficar bem. Percebi, depois destes anos todos de conjecturas, de teorias, de tentar dar um sentido a tudo, percebi que não era com o Cancro que eu estava zangada... não. Sim com esperança.
Não, nunca estamos preparados para ficar sozinhos.
O medo da luz
Agora percebia essas contradições que o Camões falava, esse querer e não querer. O lado mais escuro queria manter-se na sombra das portadas fechadas, quieto, a observar a dança dos raios de sol de mais um amanhecer lindíssimo. Mas havia o outro lado, aquele que queria abrir a porta e deixar tudo para trás, caminhar sem rumo e sem medos. E durante muito, muito tempo, manteve-se assim, com a mão exposta á luz que entrava por entre as portadas, a acumular a força de se libertar de tantas amarras inexistentes, como teias de areia acumuladas pelo medo.
Hoje à noite
Naquele copo de vinho branco que bebi, estava a esperança de um veneno adormecido. Tentei matar a sede de todos os beijos que julguei termos seguros nessa eternidade que o amor promete. Para nós não há futuro, foi uma alucinação minha, sou dada a imaginar coisas que não existem.
Fim de tarde e escrevem-se cartas sem remetente
Não há lugares seguros, especialmente dentro das palavras. Lá dentro há sempre um túnel, uma curva, ou pior ainda, um penhasco que não esperávamos que ali estivesse. Justifico assim este silêncio da escrita, sinto-o como uma abstinência forçada deste vício constante de querer acabar com tudo usando o bico de uma caneta.
ne.ga.ti.vo | Comprei cerca de 2000 negativos numa feira de velharias. Agora que comecei a ter uma ideia das pessoas que la vivem, onde estiveram, como viviam, é como se fossem uma memória fugaz de um filme do passado. Sempre me causou imensa curiosidade os motivos que levaria as famílias a desfazerem-se das suas fotografias, talvez o motivo seja haver demasiadas pessoas antes de nós.
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