Os lugares que deixaram de existir




Quando regresso a casa do meu pai é uma viagem a um lugar que já não conheço. No meu imaginário, seria como regressar à minha infância, a mesma casa, os objetos arrumados nos mesmos lugares, os cheiros ainda frescos. Quando regresso a casa do meu pai tudo parece estar igual mas tudo está muito diferente, a começar por mim e pelos olhos pelos quais observo a casa onde cresci. O pessegueiro junto á porta da entrada foi cortado, pelos vistos os pêssegos não eram os suficientes que justificassem as folhas que enchiam o pátio no Outono - eu não disse nada, mas por dentro o meu coração encheu-se de uma imensa tristeza pela morte daquele pessegueiro. Hoje, quando o portão da casa se abre para nos receber, é um portão mais triste e silencioso, despido do passado, como se tivesse sido desprovido da sua história - é o grande erro da minha família, essa necessidade constante de apagar o passado na tentativa de criar um presente perfeito. Quando regresso a casa do meu pai, eu já não sei quem somos, nem ele nem eu.

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