YERMA. Próxima semana no CCB. Espero poder ir ver.



A PERSONAGEM YERMA
Yerma é nome de uma mulher casada que deseja ter um filho como todas as outras mulheres à sua volta. Foi por isso que se casou. Descobre que o marido não lhe consegue dar o filho que deseja, desespera, não se resigna e resiste à ideia de ficar prisioneira de uma esterilidade da qual não se considera culpada e trilha um caminho que a levará à sua tragédia pessoal. Há algo de demiúrgico na acção de Yerma, que toma nas mãos o futuro e faz-se protagonista do seu destino. Yerma tem um carácter inflexível, à semelhança de Antígona. E mata o seu com as suas próprias mãos como Medeia. Estas mulheres agem a partir dos sentidos que emanam dos seus universos interiores, que servem de base à construção do mundo pessoal.
Yerma é reflexo e sinónimo de falência dos argumentos racionais e das palavras, enquanto tijolos de uma construção harmoniosa. Aquilo que não se consegue construir com as palavras, terá de ser concretizado pelas suas próprias mãos, através do sacrifício do corpo. Nesta obra, Federico Garcia Lorca mostra-nos a dor e o poder da impotência em múltiplas dimensões: a impotência das regras estabelecidas perante o espírito e a vontade individual, a impotência dos laços sociais perante a animalidade e as forças que se ocultam no nosso corpo, a impotência das palavras e dos acordos de convivência humanos que resultam invariavelmente em violência e rupturas profundas; e também o seu reverso: a impotência do indivíduo perante as forças da lei e da moral. É para lá das fronteiras da impotência, num território desconhecido, que se gera a violência onde se movem forças livres em oposição. Os universos interiores de Yerma e Juan, o seu marido, parecem destinados a destruírem-se, como uma alegoria do fim das coisas. O seu desentendimento descobre tensões entre o marido e o amante, entre o pai, a mãe e o filho, entre a mãe e a mulher casada, tensões interiores que precipitam o fim das suas vidas, cujo sentido maior se perdeu. Essa alegoria do fim das coisas é um jogo de morte, onde esta surge como um gesto de defesa, contra a fatalidade, contra a impossibilidade de concretizar sonhos.
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